Vale a pena diversificar com aplicação em ativos externos?
Estava conversando com um amigo que me disse que vale a pena pensar em diversificar em ativos externos. Vale a pena? (F.P.)
Giuliano De Marchi, CFP®:
Atualmente, muito investidor brasileiro vem se fazendo essa pergunta. Com a situação dos mercados financeiros internacionais se deteriorando a cada dia, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, a confiança do investidor local é desafiada frequentemente e o Brasil acaba se transformando em um dos únicos “portos seguros” para investimentos mundiais.
Será que realmente vale a pena a diversificação de recursos em outros mercados? Vamos aos fatos.
O primeiro fator a se analisar é a tendência que temos de concentrar nossos investimentos em mercados que são familiares. Esse fato, amplamente estudado no campo de finanças comportamentais, conhecido como “Inclinação por seus Pais de Origem” (Home Country Bias), é intensificado durante crises – e cria-se a falsa sensação de que temos controle e proteção sobre nossos investimentos ao aplicar em ativos que são familiares e relativamente próximos a nossa rotina diária.
Um bom exemplo disso, o Brasil, por se tratar de um país com dimensões continentais, possui investidores de diferentes características, a depender da região em que estejam. Provavelmente, um investidor gaúcho se sentirá mais confortável em investir em companhias localizadas no Rio Grande do Sul, como, por exemplo, Gerdau. Já um investidor fluminense terá uma maior exposição a empresas localizadas no Rio de Janeiro, com uma indústria forte em petróleo e gás, como, exemplo, a Petrobras.
Esse mesmo fenômeno pode ser analisado entre diferentes países e, como mencionado anteriormente, é reforçado em momentos de crise. Ou seja, americanos tendem a concentrar mais seus investimentos nos Estados Unidos; japoneses, mais no Japão; e, consequentemente, brasileiros, mais no Brasil.
Dado esse fato, é fundamental compreender qual a real importância do mercado brasileiro no mercado mundial. Atualmente, dentro do índice MSCI World All Country, as ações brasileiras representam cerca de 2% do volume total negociado. Ou seja, 98% das ações negociadas no mundo são ações de empresas que não estão localizadas no Brasil.
Isso não significa de maneira alguma que os investidores brasileiros devem ter 98% de seus investimentos em ativos fora do pais, somente mostra a importância de se considerar esses tipos de ativos em suas alocações de longo prazo.
O volume a ser investido, em porcentagem de seu patrimônio, deve ser estudado antes que a decisão seja tomada. Perguntas como “Qual minha necessidade de liquidez em reais?”, “Qual o prazo para esse investimento?”, “Qual o meu ‘real’ perfil de risco?” devem ser discutidas com um Planejador Financeiro.
O segundo ponto, uma vez que a decisão esteja tomada, é como se deve fazer esse investimento. Atualmente, existem inúmeras formas. A legislação brasileira avançou consideravelmente nesse sentido nos últimos anos e já existe uma série de fundos multimercados na indústria local que podem investir até 20% de seu patrimônio em ativos internacionais. Para as pessoas com grande patrimônio, alguns fundos possuem a possibilidade de aumentar esse limite em até 100%, desde que o valor mínimo investido seja de R$ 1 milhão.
Além dessas duas formas, algumas empresas internacionais já possuem BDRs negociados na bolsa e podem ser uma outra opção para esse tipo de investimento. O importante é que esse tipo de ativo pode (e deve) ser considerado no portfólio da maior parte dos investidores. Hoje em dia, grande parte dos produtos que consumimos no Brasil são de empresas globais, que muitas vezes têm origem em outros países. Em outras palavras, já somos, por definição, “consumidores globais”.
Será que não faz sentido passarmos a ser também investidores nessas empresas, já consumimos seus produtos? Pense nisso.
Giuliano De Marchi é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 24 de outubro de 2011.