Devo comprar dólar aos poucos ou investir o dinheiro?
Pretendo ir para Israel daqui a dois anos. É melhor investir o dinheiro num produto com vencimento para dois anos ou deixar o dinheiro na poupança e ir comprando dólar aos poucos?
Hélio Nunes, CFP®, responde:
No Brasil a cotação do dólar, chamada taxa de câmbio, é determinada pelas forças de mercado representadas pelo nível de oferta e procura. É uma das variáveis econômicas mais complexas para projeção, pois sofre influência de vários elementos internos e externos que provocam oscilações no preço. Dessa forma, não é tarefa fácil, mesmo para especialistas, fazer previsões sobre sua cotação. Diante desse cenário de incertezas, quem vai viajar para o exterior está sujeito ao risco de flutuações de preço, conhecido como risco de mercado, representado pela possibilidade de o preço do dólar aumentar de modo que a reserva em real do investidor não consiga comprar dólar na quantidade necessária.
O leitor apresenta duas alternativas para compra do dólar e deseja saber qual a mais adequada à situação. A compra de moeda estrangeira, quando feita em etapas para conseguir uma cotação média no período disponível, pode diminuir o risco de comprar todo o montante numa cotação desfavorável. Podemos ter uma situação em que a cotação torne-se mais favorável e, nesse caso, a estratégia de comprar aos poucos é mais interessante. Quanto a aplicar o dinheiro em produto de investimento com prazo de dois anos e realizar a compra ao final do período, caso a aplicação esteja caracterizada por rendimentos com taxas prefixadas ou pós-fixadas — a chamada renda fixa — há o risco de o dólar subir em proporção maior que o rendimento da aplicação. Dessa forma, é opção de maior risco em relação à compra parcelada.
Entretanto, a opção de manter o dinheiro aplicado com resgate após dois anos pode ter o risco de mercado atenuado através de investimento em um produto cujo rendimento esteja atrelado à variação cambial. Uma opção disponível no mercado são os fundos cambiais de dólar, uma modalidade de fundos de investimento.
De forma geral, fundos de investimento funcionam como uma espécie de condomínio de investidores no qual os recursos são administrados por uma instituição financeira em conformidade com as características do fundo e a política de investimento definidas em seu regulamento. Existem vários tipos de fundos, cada qual com suas especificidades. No caso dos fundos cambiais de dólar, a legislação estabelece que pelo menos 80% de seus recursos devem ser aplicados em investimentos atrelados ao dólar, o que significa que a maior parte do valor investido está associada à moeda estrangeira.
É preciso que o investidor esteja atento às taxas e aos impostos incidentes na aplicação. Os fundos cobram uma taxa de administração pela gestão do dinheiro. Alguns fundos também podem cobrar taxa de performance caso os rendimentos superem determinados parâmetros estabelecidos no regulamento. Além disso, os fundos cambiais estão sujeitos à tributação de IOF (imposto sobre operações financeiras), no caso de aplicações por prazo menor que 30 dias, e imposto de renda. Para fins de imposto de renda, os fundos são classificados como de curto prazo e de longo prazo. Nos fundos de curto prazo, as alíquotas são de 22,5% para aplicações até 180 dias e 20% para aplicações após 180 dias. Os fundos de longo prazo apresentam quatro alíquotas: 22,5% até 180 dias, 20% acima de 180 até 360 dias, 17,5% acima de 360 até 720 dias e 15% acima de 720 dias. As alíquotas são aplicadas sobre os rendimentos brutos obtidos.
Portanto, a aplicação em fundo cambial de dólar permite proteger parte dos recursos aplicados das elevações de cotação da moeda estrangeira, atenuando o risco de mercado. Por outro Iado, importante ressaltar que essa proteção não é total em razão das características de composição dos investimentos do fundo e dos custos referentes às taxas e à tributação. Para a melhoria do nível de proteção, convém análise prévia que estime o montante a ser aplicado de modo que permita cobrir os custos envolvidos, bem como compensar a parte dos recursos que não está atrelada ao dólar. É recomendável evitar fundos que cobrem taxa de performance para reduzir esses custos.
Hélio Nunes Ferreira é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFPO (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 17 de Maio de 2022