Alcançou a independência financeira? E agora, como mantê-la?
Luciana Araújo, CFP®, responde:
A independência financeira é um objetivo almejado por muitos, representando a liberdade de viver sem preocupações financeiras e sem a necessidade de trabalho árduo e restrições. No entanto, alcançar essa meta é apenas o começo de uma nova fase que exige planejamento, disciplina e autoconhecimento. Vamos explorar esse assunto sob as perspectivas financeira e psicológica para entender como manter essa tão desejada independência. Afinal, a independência financeira não é apenas uma questão de números: envolve também uma transformação pessoal e comportamental significativa.
Pela perspectiva financeira, manter a independência conquistada requer atitudes para proteção do patrimônio, tanto ao tomar medidas para não consumir mais do que o planejado quanto na atualização do valor patrimonial pela inflação e diversificação dos recursos financeiros. Uma das máximas do investimento é não colocar todos os ovos na mesma cesta. A diversificação ajuda a reduzir o risco e proteger contra a volatilidade do mercado. Essa diversificação pode envolver tanto ativos financeiros, como títulos do Tesouro, fundos de investimentos, ações e investimentos no exterior, quanto investimentos não financeiros, como imóveis.
Vivemos em um mundo de incertezas. Então, mudanças na economia, nas metas pessoais ou na saúde podem exigir adaptações. É importante reavaliar o orçamento, a necessidade de liquidez (disponibilidade dos recursos de forma imediata), as fontes de renda e os investimentos periodicamente para garantir que estejam alinhados com as necessidades e objetivos atuais. Também é importante verificar a necessidade de seguro de vida pessoal ou familiar, garantindo que situações graves de saúde não impactem o patrimônio acumulado para a independência financeira.
Pela perspectiva psicológica, alcançar a independência financeira pode trazer uma série de emoções, desde alívio e felicidade até ansiedade sobre a manutenção dessa condição ou perda do senso de propósito e sensação de vazio. Falas do tipo: “Não estou mais encontrando motivação para viver, tudo que eu preciso eu já tenho, e o que não tenho, para conseguir se tornou fácil” são comuns, especialmente para quem alcançou a independência financeira ainda jovem. É importante dar-se tempo para se adaptar e encontrar um novo propósito ou paixão que substitua o impulso inicial de alcançar a independência financeira, além de investir no autocuidado e na saúde mental.
As pesquisas têm revelado que as pessoas que buscam a independência financeira como o principal objetivo de vida, ao alcançá-la, são mais propensas a problemas psicológicos e existenciais, enquanto as pessoas que alcançam a independência financeira sem ter vivido em função dessa independência, aproveitando momentos importantes da vida e distribuindo suas energias em diferentes propósitos, possuem mais satisfação com a vida, menos problemas psicológicos e maior condição de manter o patrimônio.
Manter a independência financeira requer uma boa gestão do patrimônio, como já mencionado nos primeiros parágrafos deste artigo, mas também o equilíbrio e saúde emocional para ressignificar a vida e redefinir propósitos. Sem isso, pode surgir um vazio existencial. É necessário estabelecer novos objetivos, como investir no desenvolvimento pessoal, participar de workshops e outras formas de aprendizado, cultivar a espiritualidade, aprender um novo idioma, ou realizar trabalhos voluntários. Muitas pessoas encontram um novo senso de propósito contribuindo não só com recursos financeiros, mas com o seu tempo e talento para que outras pessoas tenham uma vida melhor. Também pode ser útil se envolver em novos projetos ou criar programas de mentorias.
Por fim, alcançar a independência financeira é um marco significativo, mas mantê-la exige um planejamento contínuo e uma abordagem equilibrada entre finanças e bem-estar psicológico. Com uma combinação de gestão financeira adequada, novos objetivos de vida e bem-estar psicológico, é possível não apenas preservar essa independência, mas também aproveitar ao máximo a liberdade que ela oferece.
Luciana Araújo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
Texto publicado no site Época Negócios em 08 de Outubro de 2024