Apartamento é reserva para aposentadoria?
Tenho investimentos e gostaria de me aposentar daqui a uns 10 ou 15 anos. Tenho 42 anos, sou casado, tenho dois filhos, com 17 e 19 anos, respectivamente. Moramos em um apartamento de ótimo padrão. Como tenho pouco dinheiro acumulado, quero saber se posso considerar o meu apartamento como um ativo para ajudar a atingir o meu objetivo de aposentadoria.
Marcos Brízido, CFP®:
Vou responder dividindo a sua questão em várias partes. Primeiramente, você deve definir se o seu alvo para a aposentaria – ou “viver de renda” – é para 10 ou 15 anos. Cinco anos faz muita diferença em qualquer planejamento. Ou seja, reflita e decida se você pretende atingir esse objetivo aos 52 ou 57 anos de idade. Todo planejamento pode sofrer alteração, mas é muito importante que você dedique tempo a pensar sobre a idade certa para iniciar a fase “viver de renda”.
Considerando a idade atual de seus filhos, é possível projetar que na data do seu objetivo futuro eles já estarão mais independentes de suporte financeiro.
Considerando o seu comentário, de que acumulou pouco até agora, e assumindo que seria importante incluir o imóvel para aumentar a sua chance de sucesso no objetivo futuro, descrevo abaixo um exemplo hipotético. Espero que ele ajude na sua reflexão.
Oswaldo decidiu casar-se. Parte de seu plano foi dispor de boa parte de suas reservas para adquirir um apartamento modesto, mas que acomodaria bem o casal. Alguns anos após o casamento, Oswaldo e esposa já tinham a companhia de dois filhos e, então, decidiram partir para a aquisição de outro imóvel, que melhor acomodasse uma família de quatro pessoas. Dessa vez, não somente Oswaldo, mas sim o casal decidiu consumir boa parte das reservas acumuladas após o casamento e fazer um financiamento de alguns anos para a aquisição do novo apartamento. Esse novo apartamento seria amplo, de ótimo padrão e, portanto, definitivo para o casal. Não mais precisariam trocar de imóvel. Assim, decidiram e adquiriram o novo apartamento.
Oswaldo tinha total noção de que eles estavam praticamente recomeçando a construção do patrimônio que serviria de base para a aposentadoria futura. Muitos anos depois seus dois filhos se formaram, conseguiram bons empregos e seguiram seus respectivos rumos, deixando de residir com os seus pais. Oswaldo e esposa voltaram a viver sozinhos naquele amplo apartamento. Não demorou muito para que o casal concluísse que não faria mais sentido algo tão grande somente para os dois. Além de ser grande, o apartamento trazia muito custo, muito trabalho de manutenção e, então, eles resolveram trocá-lo por um apartamento menor.
A operação de venda do apartamento maior por outro de menor tamanho trouxe um saldo positivo para a poupança do casal e, assim, deu novo impulso ao objetivo de “viver de renda”.
Em resumo, o seu apartamento faz parte da sua qualidade de vida atual. Agora procure se enxergar na data futura especificada por você. Se os seus filhos não residem mais com vocês e faz sentido efetuar a mesma troca de apartamento descrita no exemplo, a resposta a sua pergunta é sim.
É muito comum as pessoas passarem por um ou mais eventos de descapitalização para aquisição de um imóvel. Ou seja, acumulam investimentos por anos e consomem parte desses investimentos para adquirir um imóvel para moradia. No exemplo, vimos o “incha” e “desincha” das residências. Agora pare e pense se já não viu ou ouviu uma história parecida.
Marcos Brízido é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 03 de dezembro de 2012.