Consultório Financeiro

Bitcoin em alta vale a pena ou é uma bolha?

Marina Luz, CFP®, responde:

Nos últimos anos, o Bitcoin tem atraído uma atenção crescente, seja pela sua valorização expressiva ou pela inovação que representa no mundo das finanças. Essa criptomoeda, que começou como um experimento tecnológico em 2009, hoje é vista por muitos como uma alternativa de investimento. No entanto, sua alta volatilidade e o fato de ainda ser jovem podem causar desconfiança. Dito isso, vale a pena investir ou é apenas uma bolha?

Para responder a essa pergunta, primeiro é preciso entender o que são bolhas. A formação de bolhas é o fenômeno em que o preço de um ativo inflaciona muito além de seu valor intrínseco devido à especulação e à demanda irracional. As bolhas podem ocorrer em qualquer mercado, mesmo nos tradicionais, como o imobiliário.

Elas se formam quando há um deslocamento significativo entre oferta e demanda, quando os investidores compram um ativo na expectativa de que seu preço continuará subindo, ignorando fundamentos econômicos. Eventualmente, a realidade se impõe, a confiança cai, e os preços despencam, causando grandes perdas.

A crise de 2008 é um exemplo disso. Os preços das propriedades subiram impulsionados por crédito fácil e práticas de empréstimo irresponsáveis, até que a realidade do risco de inadimplência e a insolvência desencadearam uma queda dramática nos preços.

No entanto, isso não significa que o ativo subjacente, seja imóveis ou Bitcoins, é intrinsecamente uma bolha.

O Bitcoin representa uma inovação tecnológica no campo das finanças e da computação porque ele resolve um problema que até então estava sem solução: o problema do gasto duplo.

O Bitcoin é um sistema de pagamento eletrônico baseado em prova criptográfica em vez de confiança, permitindo que quaisquer duas partes dispostas a transacionar diretamente uma com a outra o façam sem a necessidade de um terceiro confiável.

É um ativo descentralizado, totalmente desvinculado de instituições financeiras, baseado em uma tecnologia de prova matemática (blockchain) e limitado a 21 milhões de unidades, o que faz dele um ativo seguro, transparente e escasso, características que contribuem para que ele tenha valor intrínseco.

Mas o mercado de criptomoedas é altamente volátil e propenso a especulações e episódios de “manias” onde o preço do Bitcoin dispara rapidamente, seguido de quedas bruscas.

Em 2021, por exemplo, o valor da moeda passou de cerca de 30 mil dólares em janeiro para quase 65 mil dólares em abril, para despencar para menos de 30 mil dólares em julho do mesmo ano, e aproximadamente 17 mil dólares no final do mesmo ano. Essa variação drástica em tão pouco tempo reflete tanto a falta de consenso sobre seu valor intrínseco quanto a influência de fatores externos, como regulamentações governamentais e declarações de figuras públicas.

Dado esse cenário, o recomendável é que os investidores interessados nesse tipo de exposição considerem como limite máximo de alocação a fatia do portfólio destinada aos investimentos mais voláteis e que podem sofrer fortes oscilações ainda no curto prazo. Em termos práticos, isso significa que a quantia investida deve ser aquela que, em caso de perda considerável, não afete suas finanças pessoais, não comprometa suas despesas de curto prazo e reserva de emergência.

Principalmente por se tratar de um ativo volátil, ao se pensar em investir nessa categoria, é recomendada a busca por orientação de profissionais qualificados, que podem ajudar a moldar uma estratégia de investimento que se alinhe ao seu perfil e às suas necessidades e objetivos individuais, de curto e longo prazo.

Marina Luz é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected] 

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 5 de Agosto de 2024

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