Como planejar os investimentos de acordo com as necessidades?
A estratégia de investimentos deve ter como base, idealmente, o planejamento financeiro e patrimonial da família, aumentando a chance e eficiência da concretização de planos
Diana Benfatti CFP®, responde:
Como planejar os investimentos de acordo com as necessidades?
As pessoas acumulam e investem recursos aspirando, principalmente, a atender necessidades (e desejos) de vida futuros – próprios, de sua família e, às vezes, das próximas gerações. Portanto, a estratégia de investimentos deve ter como base, idealmente, o planejamento financeiro e patrimonial da família, aumentando a chance e eficiência da concretização de planos, assim como a segurança para lidar com as adversidades da vida.
No entanto, tradicionalmente, investidores montam suas carteiras de investimentos de forma pouco personalizada, limitando-se a buscar um retorno financeiro adequado sobre determinado nível de risco definido para o portfólio, de acordo com o seu perfil de tolerância ao risco pessoal. A métrica que determina a tolerância ao risco costuma ser aplicada de forma genérica, desconsiderando necessidades e desejos individuais, ou mesmo questões patrimoniais estruturais de cada investidor. Como exemplo, nos questionários comumente aplicados pelo mercado, pessoas mais jovens e mais maduras podem obter resultados iguais sobre seu nível de tolerância ao risco. E, naturalmente, há grandes chances de que uma mesma carteira de investimentos não seja adequada para ambos os casos.
Felizmente, há também metodologias que otimizam a alocação de investimentos de forma mais personalizada, levando em conta não somente a composição de ativos, mas também a forma como esses ativos conectam-se com os objetivos de vida pessoais. Trata-se da Goal-Based Allocation, ou do Goal-Based Investing, por meio do qual, após definida a estratégia completa da estrutura financeira e patrimonial familiar, é construído o elo entre o plano financeiro e a gestão da carteira de investimentos. A escolha da composição dos ativos considera, além do nível de tolerância ao risco, as necessidades de liquidez planejadas ao longo do tempo para que os planos se concretizem e, para cada uma delas, a adequação das diversas características dos ativos elencados.
O perfil de tolerância ao risco do investidor é determinado pela combinação entre a disposição psicológica individual a tomar risco e a capacidade financeira da família de assumir risco, sendo esta composta por diversos parâmetros relacionados à estrutura financeira, patrimonial, pessoal, familiar e profissional do investidor. Dessa forma, quando estudada com base nos dados de um plano financeiro detalhado, é muito mais precisa. São analisados aspectos como as projeções de sustentabilidade do plano financeiro ao longo do tempo; a existência ou previsão de dependentes; o horizonte de tempo dos objetivos de retorno; a existência de uma reserva de emergência adequada; a composição da estrutura patrimonial; as necessidades de liquidez ao longo do tempo; a capacidade de poupança; o mapeamento dos riscos de vida, saúde e patrimoniais e suas coberturas; a fase do ciclo de vida; a estrutura de planejamento fiscal e sucessório; entre outros.
A medição da disposição psicológica a tomar risco geralmente é feita em formato de questionário, com metodologias com embasamento científico. Esses dois fatores são descorrelacionados entre si, podendo um investidor ter disposição a tomar risco alta e capacidade de tomar risco baixa, e vice-versa. O perfil de tolerância ao risco do investidor, determinado pela medição agregada desses dois aspectos, embasará a composição de classes de ativos da carteira de forma ampla. Porém, a determinação da composição de classes de ativos ainda é genérica e insuficiente para que projetos específicos sejam conquistados.
Na metodologia Goal-Based Allocation, tanto o conjunto geral de diversificação da carteira de ativos como cada ativo específico são importantes. Os planos familiares que necessitam de liquidez futura são cuidadosamente mapeados e, para que sejam atingidos com mais êxito, são estabelecidas as mais adequadas características técnicas para os ativos, ou a composição de ativos, relacionados a cada objetivo, como nível de liquidez; risco de crédito; indexadores e risco de mercado; prazo; moeda; risco político; etc. Nessa escolha da composição de ativos específicos, todos os aspectos de cada ativo farão diferença no sucesso do plano de vida.
A determinação dos ativos que compõem uma carteira de investimentos personalizada requer profundo conhecimento técnico sobre as características dos investimentos financeiros, o funcionamento do mercado e as técnicas de composição e diversificação de portfólio. Por isso, é importante contar com ajuda especializada para montagem e gestão da carteira, o que requer, além de uma adequação individual inicial, constantes rebalanceamentos da composição de ativos e análise da adequação da relação risco X retorno de cada um deles. Adicionalmente, o mercado oferece oportunidades de compra e venda favorecendo determinadas trocas na composição de ativos em momentos específicos que melhoram essa relação risco X retorno. Esse trabalho, quando feito por uma equipe especializada, é muito mais eficaz no propósito de realização dos projetos e objetivos da família.
Diana Benfatti é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
Texto publicado na Revista Época em 8 de novembro de 2022.