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De que maneira posso aproveitar melhor meus recursos com a mesma renda?

Luciana Araujo, CFP®, responde:

Viver com um orçamento apertado é uma realidade para muitas famílias brasileiras. Muitas pessoas sacrificam a qualidade de vida aumentando a carga horária de trabalho para obter uma maior renda, porém à custa da saúde, do tempo para o autocuidado e do tempo com a família, muitas vezes indo contra os seus próprios valores. No entanto, existem formas de aproveitar melhor os recursos com a mesma renda. Para isso, são necessárias algumas atitudes do ponto de vista financeiro e psicológico.

Pensando do ponto de vista financeiro, o primeiro passo é ter total clareza do orçamento pessoal ou familiar. Para isso, o uso de planilhas, blocos de anotações e aplicativos de finanças pode ajudar. Sabendo exatamente quais são as despesas fixas (como aluguel e contas de consumo), variáveis (como alimentação e lazer) e as projeções de despesas ao longo do ano, como IPVA, matrículas escolares ou outras despesas inevitáveis que não estão no orçamento mensal, mas estarão no anual, pode-se começar a realizar um planejamento financeiro para um melhor uso dos recursos.

Ainda do ponto de vista financeiro, vale olhar com atenção as despesas com alimentação fora de casa e por aplicativos, as despesas com lazer e as despesas com roupas e acessórios. É comum que uma intervenção nessas três partes do orçamento já apresente alguns resultados. A cultura do consumo tem impregnado a ideia de que viver a vida, diversão e lazer são necessariamente sinônimos de consumo. Logo, é necessário um exercício mental para desconstruir essa ideia, encontrando novas formas de lazer desassociadas do consumo. Por exemplo, cinema em casa com a família ou amigos e caminhadas ao ar livre.

Para ter maiores resultados, também é importante repensar o padrão de vida. Morar em um bairro mais barato, desde que a economia não seja comprometida com o deslocamento para o trabalho, pode ser uma opção. Outra possibilidade é mudar-se para mais próximo do trabalho para economizar com combustível e depreciação do veículo. Caso não haja possibilidade de mudança de bairro, pensar em procurar um imóvel com menos custos de condomínio e IPTU também é válido.

Também é importante considerar os custos com veículo. Alguns veículos possuem custos mais elevados de manutenção, IPVA e combustível. A troca de um veículo de custo elevado por outro de menor custo também pode ajudar. Essas medidas podem contribuir para você aproveitar melhor os recursos, construir uma reserva de emergência e investir para objetivos de longo prazo.

Pensando do ponto de vista psicológico, é importante lembrar que decisões financeiras e emoções estão intimamente ligadas, sendo as emoções o que sabota a razão. Para otimizar o orçamento, viver sem estresse financeiro e conseguir guardar dinheiro para uma reserva de emergência ou reservas para objetivos de longo prazo, é necessário disciplina.

Ainda do ponto de vista psicológico, é útil lembrar se há algum padrão de situações que disparam gatilhos para comprar. Por exemplo, existem pesquisas que relacionam maior consumo das mulheres em período pré-menstrual. Então, vale uma reflexão para buscar na memória situações que influenciam o consumo, como estresse no trabalho ou discussões no relacionamento. Ter consciência desses padrões é útil para estar mais atento às situações que disparam gatilhos de consumo.

Para realizar essas mudanças, é preciso ter uma boa razão para além do fato de economizar em si. Afinal, o porquê e o para quê fazemos o que fazemos é o que nos move. Então, fazer uma lista de vantagens e desvantagens pode ajudar a encontrar boas razões para a mudança desejada. Por exemplo, listar pelo menos cinco vantagens e cinco desvantagens de permanecer como está e, em seguida, listar pelo menos cinco vantagens e cinco desvantagens de fazer a mudança. Pesar os dois lados da balança e analisar o que de fato pode fazer mais sentido para se ter uma vida mais tranquila, aproveitando melhor os recursos sem aumento de renda.

É bom lembrar que algumas mudanças podem dar a impressão de que você está retrocedendo. Porém, dar grandes passos à frente, às vezes, requer alguns passos para trás. Algumas emoções, como medo e vergonha, podem surgir ao se pensar em diminuir um padrão de vida, mas é preciso lembrar que mudanças como essas são atos de coragem. Apenas aqueles que não vivem a vida dos outros e pensam no que é melhor para si e para sua família são capazes de realizar as mudanças necessárias para alinhar a sua vida com os seus valores.

Luciana Araújo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no site Época Negócios em 13 de Agosto de 2024

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