É hora de comprar dólar ou ele pode baixar?
Contribuem para as flutuações da relação R$/US$ as diversas interações da economia doméstica com o estrangeiro
Jean Marcio CFP®, responde:
A dúvida sobre quando é melhor comprar dólar (US$) é frequente entre os que necessitam fazer transações com essa moeda.
Sobre isso, de início, deve ser lembrada a forte tendência de variação do câmbio no curto prazo. Aliás, na perspectiva do nosso país, é válido notar que não é o dólar que é tão volátil, mas a cotação do real (R$) em relação ao dólar, o que é usual entre moedas de países emergentes.
Contribuem para as flutuações da relação R$/US$ as diversas interações da economia doméstica com o estrangeiro. São exemplos dessas interações os fluxos de comércio internacional, a atratividade relativa de investimentos financeiros, mudanças na percepção de incerteza e risco e, ainda, diferenciais de inflação e juros entre Brasil e Estados Unidos, sobretudo.
Apesar das alterações do equilíbrio estabelecido entre elementos assim, que são constantes e até impossíveis de prever, a taxa de câmbio não deve ser interpretada como um “barco à deriva”. A teoria econômica tem métricas para pelo menos sinalizar tendências para o câmbio.
Uma delas tem a ver com o índice DXY (US Dollar Index), existente desde os anos 1970, que precifica o dólar diante de uma cesta de moedas de referência. Atualmente, o que mais pesa é o comparativo com o euro. Com esse indicador o leitor pode então analisar, usando sites financeiros diversos, se o nível do dólar está globalmente mais apreciado (com o DXY > 100) ou depreciado (DXY < 100).
Em nosso contexto, a valorização do dólar em relação ao real também deve ser considerada. É aí que aparece outra medida importante: comparar o diferencial acumulado de inflação geral entre os Estados Unidos e o Brasil a partir do momento de adoção da moeda mais recente (no caso o real, criado em 1994).
Como moedas são meios de troca que se depreciam com a alta de preços, a relação dada pela chamada paridade do poder de compra (ou PPC) de 1:1 (ou 100, com apresentação alternativa) deveria ser mantida, à parte de alterações nominais. Exemplificando, US$ 1,00 e R$ 1,00 em 1º de julho de 1994 seriam o mesmo que, depois, US$ 1,00 e R$ 1,50 caso a inflação brasileira fosse 50% maior que a norte-americana no intervalo observado. Ou seja, o “câmbio justo” seria como uma forma modificada da inflação, com mais reais sendo necessários para comprar um dólar com o tempo.
A evolução do índice da PPC também pode ser consultada facilmente na área de estatísticas do site do Banco Central (www.bcb.gov.br), entre outros dados do setor externo. Nessa checagem, aliás, é praticamente certo que serão achados números diferentes de 100 ou até acima disso (denotando um real mais depreciado contra o dólar). É aí, então, que aparece uma interpretação sobre o dólar estar “caro ou barato”.
Seja como for, por caminhos como os aqui indicados ou outros de ordem técnica, o leitor tem instrumentos essenciais para julgar por si a apreciação maior ou menor do dólar. Ao lado disso, assumindo o preço atual como apenas “dado” — que pode sempre subir ou decair —, existem medidas compensatórias para lidar com a flutuação do câmbio, como aquisições periódicas de dólar para a formação de um preço médio. Alocações nessa moeda e/ou em ativos nela denominados também podem ser aceleradas quando números de PPC e/ou DXY estiverem “mais em conta”.
Esses são meios que aprimoram a decisão do leitor, ajudando a dar conta de todo o ruído que interfere nas considerações sobre para onde vai o câmbio. Na dúvida, conte com o suporte de especialistas como um Planejador Financeiro CFP® para analisar questões desse tipo.
Jean Marcio de Mélo é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado na Revista Época em 19 de outubro de 2022.