Metas financeiras para o longo prazo
Pense em investir não como uma série de decisões, mas como um hábito
Alexandre Brito, CFP®, responde:
Todo processo de planejamento financeiro inicia-se pela definição dos objetivos financeiros e do perfil de risco do investidor, atrelados a sua capacidade e disposição a correr riscos. Já a principal meta a ser estabelecida é a aposentadoria, ou seja, a perspectiva de acumular patrimônio para seu “eu” no futuro. Mas, nesse trajeto, muitas pessoas acabam por desviar sua atenção dos objetivos de longo prazo por ruídos atribuídos à visão de curto prazo do mercado financeiro.
A estratégia ideal para um investidor seguir a orientação do seu planejamento de longo prazo é controlar seus impulsos de seguir a manada. A disciplina nos investimentos, por definição, é a prática de tomar decisões baseadas em princípios seculares de bom senso na alocação dos recursos, evitando a influência das emoções que determinam o comportamento coletivo.
Sendo assim, a melhor forma de desenvolver a disciplina na gestão da carteira de investimentos é definir um plano de alocação baseado em seus objetivos financeiros, respeitando sua capacidade e disposição de risco, e permanecer fiel ao planejado – nos bons e maus momentos. Na literatura de finanças, isso é conhecido por alocação estratégica, a qual deve ser alterada apenas se mudarem as premissas utilizadas para a construção do perfil do investidor.
Isso seria o ideal. Porém, na maioria das vezes, grande parte das pessoas acaba deixando essas estratégias de lado em busca de ganhos que, à primeira vista, parecem atraentes, mas que não correspondem à realidade. É por isso que, frequentemente, profissionais da área de gestão de patrimônio se deparam com o principal obstáculo para a execução de um planejamento financeiro de longo prazo: a proliferação de estratégias de investimento que buscam antecipar movimentos de preço – também conhecida como market timing.
O market timing é uma tentativa, na maioria das vezes frustrada, de acertar o momento de compra ou venda de determinado ativo por meio da previsão do comportamento do mercado. Os que se aventuram nessa área estão acostumados a ouvir frases do tipo: “Este é o momento de comprar bolsa” ou “Agora é a hora de vender suas ações”. Prever o comportamento do mercado é a ideia de que há momentos para estar no mercado e outros para estar fora dele.
À primeira vista, pareceria o caminho mais lógico para o sucesso em uma carteira de investimentos. No entanto, a baixíssima consistência nos acertos nessa estratégia é fato amplamente documentado no meio acadêmico. O mercado é formado por pessoas – e nada mais difícil e imprevisível do que antecipar suas decisões.
Comumente, somos tentados, seja pelo alto fluxo de notícias, seja pela comunicação dos distribuidores de produtos financeiros, a avaliar o curto prazo do cenário econômico, adotando posições de acordo com as circunstâncias políticas, econômicas e sociais. Mas esses cenários mudam a cada semana e, evidentemente, levam os investidores que tentam acompanhar esse frenesi a comprar e vender ativos a todo momento.
Esse comportamento se contrapõe justamente a um bom plano de alocação, que deve levar o investidor a fazer o rebalanceamento oportunístico – isto é, à medida que uma classe de ativo excede a alocação original, deve-se reduzir a exposição, e quando uma estratégia estiver inferior à composição original, deve-se aumentar sua exposição. Para essas movimentações, é importante manter ativos de liquidez na carteira e a diversificação entre os ativos que compõem o portfólio, visando à eficiência na relação risco x retorno.
Então, chegamos aqui a uma pergunta-chave: como manter a disciplina a longo prazo? Pense em investir não como uma série de decisões, mas como um hábito.
Alexandre Brito é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 4 de Setembro de 2023.