Não tenho dinheiro para pagar o que devo. O que fazer?
Angela Nunes, CFP®, responde:
Um ponto fundamental para sair do endividamento é buscar formas de se criar capacidade de pagamento. Por mais óbvia que essa colocação possa parecer, ela requer a avaliação de algumas ações para que esse momento que você está vivendo seja alterado e o endividamento torne-se, o mais rapidamente possível, apenas um momento que foi ultrapassado e que não se perpetuará no futuro.
Vamos chamar esse momento de “crise a ser superada” e que como toda “crise”, superá-la vai requerer muito esforço, determinação e disciplina.
As principais ações a serem implementadas:
1 – Organizar e otimizar as Receitas e Despesas
O primeiro e um dos mais importantes pontos a ser trabalhado é a organização orçamentária. Explicando um pouco melhor, se você ainda não faz, deve começar fazer, imediatamente, um orçamento detalhado de todas as suas receitas e despesas.
Despesas – no orçamento faça o registro cuidadoso e detalhado de todas as suas despesas e desembolsos. Como temos muito mais possibilidade de agir sobre as despesas do que sobre as receitas, avalie tudo o que pode ser substituído, reduzido ou cortado de forma que, nesse período de “crise”, apenas os itens absolutamente essenciais sejam preservados e haja uma efetiva redução no montante das despesas/desembolsos. Envolva toda a família, crie metas a serem atingidas em conjunto.
Receitas – como você não citou a sua situação de trabalho, estou partindo do princípio que você trabalha e portanto gera renda. Avalie se é possível você e outras pessoas da família produzirem renda adicional, que pode ser desde fazer horas extras no trabalho até criar receitas com outras atividades. Muito provavelmente, você deve ter alguma habilidade ou conhecimento com o qual pode produzir algo que possa ser comercializado ou prestar algum serviço que possa ser remunerado. Faça isso “sem preconceitos”! Conheço muitas pessoas extremamente habilidosas que não buscam uma complementação de renda um pouco por inércia e muito por resistência a fazer algo novo ou até pela preocupação com o que os outros vão pensar.
A ação de ampliar as suas receitas ao máximo e reduzir as suas despesas ao mínimo são fundamentais para que você possa melhorar a sua capacidade de pagamento das dívidas e desenvolver uma vida financeira mais saudável.
2 – Avaliar os bens disponíveis
Avalie seus bens e verifique se existem itens dos quais você possa dispor e usar o resultado para ajudar a pagar as suas dívidas. Acredito que por você estar no rotativo do cartão de crédito, ter um empréstimo pessoal e estar atrasando o financiamento do carro já deva ter utilizado as aplicações financeiras de que dispunha.
Como um dos ativos que você tem é o carro e ele também é dos itens do endividamento, considere que – se seu carro não for absolutamente fundamental para você executar o seu trabalho – o ideal seria você vendê-lo, negociar com o banco a liquidação do financiamento e excluir esse comprometimento financeiro do seu orçamento. A venda do carro trará despesas com transporte, mas por outro lado, significará que os custos decorrentes do carro – seguro, IPVA, manutenção, combustível etc. – deixarão de impactar as suas despesas. Em boa parte dos casos, quando colocado na ponta do lápis, o resultado é positivo.
Avalie se você tem bens que não sejam fundamentais para alguma atividade que possa gerar renda e que possam ser vendidos, por exemplo: equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos, livros, roupas. Existem muitos sites e bazares em que você pode vender esses itens e conseguir um montante que poderá ajudá-la no pagamento das suas dívidas. Conheço muitas pessoas que mesmo não estando endividadas vendem o que não usam mais para ter recursos para cobrir outras despesas.
Caso você tenha imóvel próprio pode analisar a possibilidade vendê-lo para comprar um de menor valor ou mesmo vendê-lo e alugar uma moradia e utilizar o resultado da venda para pagar as dívidas.
Vale lembrar que no caso da venda do imóvel pode haver incidência de Imposto de Renda sobre o eventual lucro (denominado ganho de capital) apurado. Portanto, antes da venda devem ser verificadas as regras de tributação e o impacto do Imposto de Renda.
Uma outra hipótese é usar o imóvel como garantia em refinanciamento que, provavelmente, terá juros menores do que os atualmente pagos. Para ser dado em garantia o imóvel tem que estar quitado. Um ponto importantíssimo a ser destacado é que, caso você não consiga pagar o refinanciamento, ou seja, no caso de você ficar inadimplente, a garantia dada – seu imóvel – poderá ser executada para pagar a dívida.
3 – Renegociar as dívidas
Analise o custo das suas dívidas, especialmente os relativos ao rotativo do cartão de crédito. Verifique se não seria possível trocar as dívidas atuais por outras de custos mais baixos e prazos mais longos para reduzir as parcelas de modo que possam ser acomodadas no orçamento que você irá fazer. Por exemplo: verifique se você pode tomar um empréstimo consignado que, por ter o desconto da parcela mensal via folha de pagamento, tem taxas mais baixas ou se é possível ter um empréstimo pessoal com melhores condições de taxa e prazo do que as atuais.
Espero e torço para que você mude o mais rapidamente possível a sua atual situação financeira passando de devedora para poupadora e que todo o esforço e ações que sejam feitas tragam hábitos novos e ajude você a construir uma vida financeira leve, saudável e sustentável ao longo do tempo.
Acredite, todo o seu esforço valerá a pena!
Maria Angela Nunes Assumpção é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar (Associação Brasileira dos Planejadores Financeiro). E-mail: [email protected]
Este artigo foi publicado originalmente na Época Negócios. As respostas refletem as opiniões do autor, e não da Época Negócios ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
Texto publicado no site Época Negócios 01 de agosto de 2017.