Por que gasto menos do que ganho, mas não sobra nada?

7 de ago. de 2017

Maria Angela Nunes, CFP®, responde

"Ao listar as minhas despesas sempre penso que gasto menos do que ganho, mas nunca sobra nada na minha conta. O que pode estar acontecendo?"

Maria Angela Nunes, CFP®, responde:

Prezado(a) leitor(a), a situação que você está descrevendo, infelizmente, é a realidade de um bom número de pessoas.

Pela relevância do tema, fico feliz em buscar responder a sua pergunta: o que pode estar acontecendo? A resposta poderá ser útil não apenas para você, como para outras pessoas na mesma situação.

A seguir vou citar as causas que considero como mais prováveis em relação a “listar despesas” mas não conseguir fazer um controle financeiro adequado:

Considerar renda bruta — a experiência tem mostrado que muitas pessoas, quando pensam em quanto ganham, têm a tendência a considerar a sua renda antes dos descontos e/ou custos para gerá-la. No caso do assalariado, existe pelo menos o desconto do INSS e Imposto de Renda (IR) conforme a faixa salarial, além de muitas vezes ocorrerem descontos relativos à saúde, alimentação, previdência privada etc. Para quem tem uma pessoa jurídica, conforme a estrutura de constituição da empresa, pode haver o custo de contador, tributos, tarifas bancárias etc, além dos custos operacionais para o funcionamento do negócio. Ou seja, pode ser que as contas não batam por contam de se considerar que as rendas/receitas recebidas são maiores do que efetivamente o são.

Contas Mentais — muitas vezes as pessoas não fazem registros sobre as despesas e desembolsos de uma maneira organizada e usando, por exemplo, um caderno, uma planilha ou um aplicativo e acabam fazendo registros “de cabeça”.

Registros Parciais — outros optam por registrar apenas as despesas/desembolsos mais relevantes — como por exemplo: aluguel ou financiamento do imóvel, condomínio, despesas gerais de moradia (luz, gás, água), mensalidade escolar, plano de saúde etc. Nesse caso, por terem uma noção do que acreditam ser a maior parte dos seus compromissos financeiros, consideram desnecessário o registro das despesas de “menor valor” ou não preestabelecidas — os lanches eventuais, o taxi, o cafezinho com o pão de queijo, os presentes, as tarifas bancárias, a ração do cachorro e ... por aí vai — por acharem que o impacto desses desembolsos não terão um efeito relevante no orçamento.

Compras parceladas e débitos automáticos em conta corrente ou no cartão de crédito — vale a pena lembrar também das compras parceladas que muitas vezes são esquecidas nos meses seguintes a sua realização por falta de registro adequado. Esse esquecimento também é comum no caso de débitos automáticos.

Para qualquer uma das situações citadas acima haverá, inegavelmente, uma imprecisão nos resultados que poderá levar a situação colocada por você, prezado(a) leitor(a): “sempre penso que gasto menos do que ganho, mas na minha conta nunca sobra nada.”

Para que você tenha uma ideia precisa do seu dia a dia financeiro, o caminho é fazer um orçamento detalhado, no qual você registre todas as suas receitas (com os seus respectivos descontos e/ou custos) e todas as suas despesas e desembolsos. Só através do orçamento você será capaz de estabelecer como anda a sua capacidade de poupança (receitas líquidas menos despesas) e quais os ajustes necessários e possíveis que deverão ser feitos para melhorá-la.

Muitos não fazem orçamento por falta de disciplina ou por achar muito “trabalhoso” fazê-lo e dizem que precisam de uma super planilha. Desmistificando: você pode fazer o seu orçamento até em um caderno. O mais importante é que você faça o orçamento detalhado.

Acredite, orçamento é um instrumento libertador! Pois, através dele você passará a enxergar melhor de onde vem e para onde vai o seu dinheiro, e a decidir de forma mais eficiente como utilizá-lo e como criar reservas para atingir os seus objetivos. Sucesso!

Diana Benfatti é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: angela@moneyplan.com.br.

As respostas refletem as opiniões da autora, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: consultoriofinanceiro@planejar.org.br.

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 07 de agosto de 2017