Consultório Financeiro

Pai ganha em reais, mas filho gasta em dólares

Meu filho está estudando no exterior e constantemente faço remessas de dinheiro para pagar as despesas dele, o que inclui gastos com faculdade e moradia. Com a oscilação do dólar nos últimos tempos, devido à crise internacional, fico bastante preocupado com a possibilidade de esses custos subirem muito e eu não conseguir lidar com as despesas extras. Qual a melhor forma de garantir a realização desses pagamentos? Seria a aplicação desses recursos em um fundo cambial uma alternativa interessante para acompanhar essa oscilação da moeda e evitar sustos com as despesas?
 


Waldir Leôncio Netto, CFP:
 

Mesmo experientes profissionais do mercado financeiro e de câmbio têm grande dificuldade em prever os movimentos futuros das cotações. Muitas vezes, o melhor que se pode fazer é observar as tendências passadas e ficar atento aos avisos do Banco Central (BC) sobre o assunto.
 
Para a economia como um todo, o ideal é que a taxa de câmbio fique em um patamar equilibrado, pois uma cotação muito baixa é tão prejudicial quanto uma muito alta. Nos últimos meses, por exemplo, assistimos a uma valorização impressionante do dólar frente ao real, principalmente por conta do agravamento da crise. A cotação R$/US$ subiu de 1,70 para quase 2,10 entre março e junho. Já o começo do segundo semestre trouxe perspectivas mais otimistas, o que, aliado a intervenções do Banco Central na oferta de moeda estrangeira no Brasil, ajudou a estabilizar o câmbio.
 
O que acontecerá no futuro? Seu palpite é tão bom quanto o meu e o dos especialistas. De qualquer forma, como seu objetivo não é especular e multiplicar patrimônio, mas manter o poder de compra em moeda estrangeira do dinheiro que constantemente remete a seu filho, os fundos cambiais podem ser consideradas boas alternativas.
 
Na prática, esses fundos procuram acompanhar a cotação (geralmente real/dólar ou real/euro; informe-se para escolher o fundo mais adequado ao país em que seu filho estuda), de forma que se a moeda estrangeira se valorizar, o fundo terá rendimentos positivos para acompanhar a alta em reais nos custos; se a cotação cair, o fundo amargará perdas em real que poderão ser expressivas, mas serão compensadas pelo barateamento das despesas no exterior.
 
Vale saber que os fundos cambiais fazem o que podem para acompanhar a cotação da moeda, mas há fatores alheios à vontade dos gestores que podem causar oscilações adicionais ao valor da cota do fundo. Além da variação cambial, esses fundos estão sujeitos às variações nas taxas de juros domésticas sobre a moeda estrangeira, os chamados cupons cambiais.
 
Ao escolher um fundo, é importante pesquisar bem para não pagar taxas de administração abusivas, muito comuns em fundos de grandes bancos. Por outro lado, é prudente aplicar somente em fundos cujos administradores sejam de sua confiança, pois esse tipo de investimento não conta com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
 
Quanto melhor se planejar, maiores suas chances de sucesso, pois a tributação dos fundos cambiais é igual a dos fundos de renda fixa, favorecendo aplicações de prazo acima de 24 meses e punindo o saque de recursos aplicados por pouco tempo.
 
Uma boa estratégia consiste em aplicar no fundo cambial somente o dinheiro que você pretende remeter a seu filho daqui a pelo menos seis meses. Se desejar proteger o dinheiro destinado a despesas em menor prazo, uma alternativa seria adquirir moeda estrangeira diretamente; é uma opção menos conveniente, mas mais econômica para pequenos montantes de uso imediato.


Waldir Leôncio Netto é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail:
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As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para :
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 10 de setembro de 2012.

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