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Quais orientações devo levar em conta para diversificar minha carteira de investimentos?

 José Carlos Cravo, CFP®, responde:

Caros leitores,

O conceito de diversificação tem ganhado destaque em diversas áreas da nossa vida, abrangendo desde as compras do dia a dia, os estudos e o trabalho até os investimentos e o planejamento financeiro. Essa prática é fundamental para a gestão eficaz de uma carteira de investimentos, pois implica a alocação de recursos em diferentes estratégias e classes de ativos, como ações, renda fixa, fundos, entre outros, o que resulta na redução dos riscos associados, promovendo uma gestão mais equilibrada e resiliente.

Importante ter equilíbrio na dosagem de diversificação, pois exagerar pode gerar algumas desvantagens para o investidor. Por exemplo, se o investidor busca diversificar sua carteira entre cinco emissores com classificação de crédito elevada, em estratégias atreladas ao CDI (índice que acompanha de perto a Selic, a taxa básica de juros brasileira) e ao IPCA (o principal indicador para compreender as tendências de inflação do Brasil), e ao realizar suas escolhas concentra 80% de sua carteira em estratégia com ativos indexados ao IPCA, nesse caso, tem como resultado a exposição e dependência da carteira em qualquer alteração na inflação.

No entanto, se levarmos em conta períodos de deflação, como os ocorridos em 2022/2023, teríamos um impacto negativo, especialmente ao se considerar o custo de oportunidade (de não aproveitar ganhos potenciais em alternativas de investimento diferentes, como a estratégia com o CDI). A diversificação em ativos com correlações distintas pode reduzir o risco da carteira, permitindo que os investidores busquem um determinado nível de retorno desejado com menor volatilidade.

Ainda que a diversificação inicial reduza o risco específico associado a cada ativo, não reduz o risco sistêmico (risco de colapso de todo o sistema financeiro ou mercado). Por isso, adicionar mais ativos pode não resultar em uma redução significativa do risco total do portfólio. Tal constatação ressalta as limitações da estratégia de diversificação, indicando que, em determinado momento, o benefício em termos de redução de risco torna-se marginal, e o investidor deve estar ciente dessas nuances ao construir e gerenciar sua carteira de investimentos. Por exemplo, escolher ativos do mesmo segmento, como empresas exclusivamente varejistas, pode não proporcionar uma diversificação eficaz, pois ao diversificar entre empresas e emissores correlacionados entre si, a carteira ainda permanece suscetível à volatilidade originada por impactos no setor varejista, seja de maneira positiva ou negativa. Portanto, a abordagem ideal consiste em considerar não apenas a diversificação entre empresas e emissores, mas também a inclusão de diferentes segmentos econômicos (como tecnologia, saúde, energia, entre outros). Isso assegura uma distribuição mais equilibrada do risco, evitando que a carteira absorva integralmente as flutuações decorrentes de eventos específicos em determinados setores.

É importante registrar que a teoria da diversificação de portfólio de Harry Markowitz destaca a necessidade de equilíbrio, enquanto Warren Buffett ressalta a importância da concentração em investimentos que você conhece e compreende, em vez de seguir tendências passageiras. Portanto, ao diversificar sua carteira, foque no equilíbrio entre a minimização de riscos e a seleção de ativos nos quais você tenha confiança.

Administrar uma carteira diversificada, com diversos ativos e emissores, não é tarefa simples. Isso exigirá dedicação e um conhecimento aprofundado em cada segmento e emissor, podendo ocasionar ineficiências na análise e na perda do timing adequado nas operações de compra ou venda. Por isso, recomenda-se procurar um profissional que auxilie no seu planejamento financeiro e na construção da diversificação da sua carteira de investimentos de acordo com o seu entendimento e perfil de risco. Mantenha-se sempre informado sobre as condições de cada ativo, segmento e estratégia antes de realizar suas aplicações.

Espero ter ajudado.

Sucesso!

José Carlos Silva Alves Cravo é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E- mail: [email protected]

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Texto publicado no site Época Negócios em 23 de janeiro de 2024

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