Qual o tamanho potencial das finanças sustentáveis no Brasil?
Felipe Peçanha, CFP®, responde:
As finanças sustentáveis no Brasil têm demonstrado um crescimento significativo e representam uma grande oportunidade para o desenvolvimento econômico alinhado com a preservação ambiental e a responsabilidade social. A crescente adoção de práticas de ASG (Ambiental, Social e Governança) por empresas e a demanda por investimentos responsáveis são indicativos claros do potencial desse mercado no país.
Um dos principais indicadores do avanço no Brasil é o aumento das emissões de títulos verdes. Esses instrumentos de dívida são utilizados para financiar projetos que trazem benefícios ambientais, como energia renovável, gestão de resíduos e infraestrutura sustentável. Em 2021, o Brasil, segundo dados da Sitawi e da Climate Bonds Initiative (CBI), registrou emissões de títulos sustentáveis no valor de aproximadamente US$ 15,8 bilhões, evidenciando um crescimento de 177% na comparação com o ano anterior.
A incorporação de critérios ASG nas operações empresariais tem se tornado uma prática comum entre as grandes corporações brasileiras. Esse movimento é impulsionado por uma combinação de pressão dos investidores, que buscam maior transparência e responsabilidade, e pela conscientização das empresas sobre os riscos e oportunidades associados às práticas sustentáveis. A adoção de ASG não só melhora a reputação das empresas, mas também pode resultar em melhor desempenho financeiro a longo prazo.
O governo brasileiro, juntamente com entidades reguladoras, tem implementado políticas para fomentar as finanças sustentáveis. O Banco Central do Brasil, por exemplo, tem incentivado a inclusão de riscos ambientais e climáticos nas avaliações de risco financeiro dos bancos. Essas medidas visam garantir que as instituições financeiras estejam preparadas para lidar com os impactos ambientais e climáticos, promovendo, assim, um sistema financeiro mais resiliente e sustentável.
Grandes bancos e instituições financeiras no Brasil estão se engajando cada vez mais com o tema, oferecendo uma gama de produtos e serviços que promovem práticas sustentáveis. Exemplos incluem empréstimos verdes e fundos de investimento ASG, que atraem investidores interessados em alinhar seus portfólios com os seus valores.
O Brasil possui vasto potencial em setores como energia renovável e agricultura sustentável. Com recursos abundantes em energia solar, eólica e biomassa, o país está bem posicionado para expandir seus investimentos em energia limpa. No setor agrícola, que é vital para a economia brasileira, a adoção de práticas sustentáveis é crucial para garantir a longevidade e a produtividade do setor, além de atender às exigências dos mercados internacionais por produtos responsáveis no âmbito social e ambiental.
Muitas empresas brasileiras têm assumido compromissos públicos com metas de sustentabilidade, impulsionando a necessidade de financiamento sustentável para atingir esses objetivos. Tais compromissos incluem redução de emissões de carbono, uso eficiente de recursos e práticas de governança responsável.
O planejamento financeiro e o endividamento responsável são essenciais para assegurar o crescimento das finanças sustentáveis. A integração de práticas ASG no planejamento financeiro pode resultar em uma alocação de recursos de uma forma mais eficiente, contribuindo para a estabilidade econômica, uma sociedade mais justa e a preservação do meio ambiente a longo prazo.
Relatórios de instituições financeiras e organizações internacionais indicam que o mercado de finanças sustentáveis no Brasil tem potencial para crescer substancialmente nos próximos anos. A Climate Bonds Initiative, por exemplo, estima que o mercado de títulos verdes no Brasil pode atingir entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões nos próximos cinco anos.
Conforme um estudo divulgado pelo projeto Finanças Brasileiras Sustentáveis (FiBraS), o mundo precisa de US$ 6,3 trilhões por ano de investimentos em infraestrutura até 2030 para cumprir os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU. Segundo a OCDE, o número sobe para US$ 6,9 trilhões ao ano se observado o Acordo de Paris.
O tamanho potencial das finanças sustentáveis no Brasil é vasto e promissor. Com o crescimento das emissões de títulos verdes, a adoção de critérios ASG, o apoio de políticas governamentais e o engajamento das instituições financeiras, o país está em uma posição favorável para se manter líder do mercado na América Latina e ganhar ainda mais destaque no ranking global.
Felipe Peçanha Cafazzi é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 06 de Novembro de 2024