Vale a pena investir em fundo multimercado?
Em função da queda de juros estou analisando fundos multimercado. Caramba, a tarefa não é fácil, existe uma imensidão de fundos e fiquei meio perdido. Me falaram para observar duas informações Volatilidade e Índice Sharpe para comparar os fundos. São dados realmente importantes? Como eles ajudam, de fato, na minha decisão?”
Marcelo Lara Nogueira, CFP®, responde:
Realmente a tarefa de analisar fundos multimercado não é tarefa fácil e, com certeza, essas duas informações citadas irão te ajudar nesse processo de escolha.
Antes de falarmos sobre volatilidade e índice Sharpe, é importante o investidor entender que a classe de fundos multimercado é extremamente ampla. Eles podem investir seus recursos em uma série de ativos financeiros como ações, títulos de crédito privado, ativos no exterior, derivativos e operar de forma alavancada, isto é, tomar posições superiores ao seu patrimônio. Sendo assim, o investidor deve sempre ler o regulamento do fundo para entender sua política de investimentos.
Com toda esta flexibilidade para investir, os multimercados podem ser de baixo risco ou de altíssimo risco. Mas como o investidor pode comparar os fundos além de apenas olhar sua rentabilidade passada e sua política de investimentos?
É aí que entram a volatilidade e o Índice Sharpe. A volatilidade é uma medida de risco que mede a oscilação do preço de um ativo em um determinado período de tempo. Quanto maior a volatilidade, maior o risco. De maneira análoga, podemos afirmar que, um fundo que possui volatilidade maior que a de outro, é um fundo mais arriscado. Melhor dizendo, é um fundo que teve maior risco que outro no período passado analisado, ou seja, neste caso, a volatilidade é uma medida de risco olhando para trás.
Na década de 1960, o economista William Sharpe criou um modelo para medir a relação risco versus retorno de um investimento, o Índice Sharpe. Ele mede o excesso de retorno de um investimento sobre outro livre de risco e o pondera pela volatilidade. Sendo assim, o Índice Sharpe nos mostra quanto de retorno determinado fundo obteve para cada unidade de risco que ele correu. Quanto maior o Índice Sharpe melhor será a relação risco versus retorno daquele fundo.
A análise do investidor não deve parar por aí. Tanto a volatilidade, quanto o Índice Sharpe, olham o passado. O investidor deve também entender qual o retorno e volatilidade objetivo do fundo declarada pelo gestor e ver se estes objetivos estão alinhados com o que ocorreu no passado. Caso o investidor encontre discrepâncias deve buscar entender o porquê de elas terem ocorrido.
Outro ponto relevante a se analisar são as taxas cobradas pelo fundo. Muitos multimercado cobram 2% a.a. de administração e performance de 20% do que exceder o benchmark (referencial) escolhido pelo fundo. Nestes casos, os fundos precisam tomar um risco elevado para pagar a taxa de administração e ainda gerar ganho ao investidor. Se o fundo tem uma volatilide muito baixa, dificilmente trará uma relação risco retorno adequada pois boa parte do risco tomado será utilizado para pagar a alta taxa de administração.
Antes de investir em um multimercado, o investidor deve primeiramente ter em mente a constituição de sua reserva de emergência para fazer frente a gastos inesperados e cobrir alguns meses de suas despesas. Estes recursos devem ser poupados em um instrumento com liquidez imediata, podendo ser no Tesouro SELIC, diretamente ou através de um fundo, ou em um título de instituição financeira de primeira linha.
Devido à diversidade de opções e complexidade dos riscos envolvidos, é recomendável ao leitor buscar a ajuda de um planejador financeiro pessoal certificado e autorizado pela CVM a prestar consultoria sobre valores mobiliários, que irá orientá-lo para que suas decisões de investimento estejam alinhadas a seus planos de vida e perfil pessoal.
Marcelo Lara Nogueira é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]
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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 27 de julho de 2020