Consultório Financeiro

A reforma da Previdência e o planejamento da aposentadoria

Tenho trinta anos e estou preocupado com as eminentes mudanças na Previdência pública. Qual o melhor caminho para me preparar para uma aposentadoria aos 65 anos?

Wagner Drumond, CFP®, responde:

Caro leitor, muito obrigado por sua pergunta, creio ser uma dúvida pertinente para muitas pessoas, pois o assunto é muito discutido em várias rodas de conversa das quais participo. Preocupar-se com a aposentadoria é algo nobre, visto que, segundo levantamento feito pelo Banco Mundial, apenas 4% dos brasileiros se preparam para a aposentadoria, colocando o Brasil entre os piores países do mundo nesse quesito. O Brasil tem o pior desempenho entre os países da América do Sul e fica atrás até de alguns países da África como Congo e Maláui, mais pobres que o Brasil, mas cuja população, no entanto, poupa mais para aposentadoria que nós brasileiros. Isso demonstra uma questão cultural, pois o estudo abrange todas as classes sociais, e a preocupação com a formação de reserva financeira para a aposentadoria é algo negligenciado pela maioria dos brasileiros.

Independentemente da aprovação da reforma da Previdência, a aposentadoria pública é insuficiente para manter o padrão de vida da maioria dos brasileiros, acarretando em uma dependência de familiares ou a necessidade do aposentado precisar continuar trabalhando para complementar sua renda. Na maioria das vezes, há uma queda abrupta na renda de quem se aposenta. Diante dessas questões, o leitor está dando um passo à frente por desejar se preparar para a aposentadoria.

Segundo o IBGE, em 2017 a expectativa de vida ao nascer é de 75,5 anos e a expectativa de sobrevida para quem atinge 65 anos é de mais 18,4 anos. A pessoa que atingir 65 anos daqui a 35 anos (2052) terá expectativa de sobrevida de 21,02 anos, ou seja, viverá em média até os 86 anos.

Com essas informações na mão, é prudente formar uma reserva financeira para complementar a renda que será gerada pelo INSS. Ainda que atualmente seja incerto quais regras da Previdência Social prevalecerão, tudo caminha para um aumento no tempo de contribuição do cidadão que deseja se aposentar pelo INSS.

Uma outra questão é como construir essa reserva, o que merece bastante atenção. O leitor pode construir sua reserva para aposentadoria através do investimento em título público federal atrelado à inflação (Tesouro IPCA), que desempenha muito bem esse papel, remunerando o investimento a uma taxa de juros prefixada acrescida da inflação. Um outro instrumento disponível são os planos de previdência privada, porém, evite planos que cobrem taxa de carregamento e possuam elevadas taxas de administração, pois essas características vão impactar na rentabilidade. Pesquise, há planos no mercado que não cobram taxa de carregamento e que cobram taxas de administração razoáveis em relação ao que entregam. Muitas modalidades de investimentos podem ser utilizadas, como fundos multimercados e de ações, mas que devem ser consideradas após uma análise do perfil do investidor.

É recomendável ao leitor que procure um planejador financeiro pessoal para abordar as nuances que envolvem um planejamento financeiro para aposentadoria, como: expectativa de renda; expectativa inflacionária e de juros no futuro; expectativa de vida; formação de reserva; condições em que essa reserva deverá ser consumida; perfil do investidor; controle de riscos de invalidez; entre outros aspectos.

Wagner Drumond é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 12 de junho de 2017

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