Consultório Financeiro

Com juros menores, tenho que arriscar mais?

Li nos jornais que, como as taxas de juros caíram, os investidores têm que assumir mais risco. Sou um aplicador conservador. Queria entender por que tenho que assumir mais risco e o que significa esse risco.

Maria Angela Nunes Assumpção, CFP®:

Caro leitor, quando tomamos decisões sobre os nossos investimentos, precisamos definir, em primeiro lugar, qual é o nosso objetivo em relação ao recurso que será aplicado. Essa definição será determinante para se estabelecer qual o nosso horizonte de investimento (quando precisaremos ter o dinheiro de volta), qual a faixa de rentabilidade seria adequada e o quanto podemos/queremos nos expor a risco. Portanto, você não tem, necessariamente, que assumir mais risco, pois pode ser que maior risco não combine com o seu perfil, objetivo e necessidade. Você pode inclusive tentar minimizar o impacto da redução dos seus rendimentos financeiros por meio da reorganização do seu orçamento familiar, buscando aumentar receitas e/ou reduzir despesas. Mas é importante que você tenha consciência que com a queda das taxas de juros as aplicações mais tradicionais passaram a apresentar uma menor rentabilidade e que, provavelmente, o dinheiro que você tem aplicado passou a ter um rendimento menor do que aquele a que você estava habituado. Como rendimento é uma equação entre rentabilidade esperada, risco e horizonte de tempo/liquidez, em cenários de juros mais baixos, é recomendável a análise de ativos diferenciados, que poderão impactar em maior risco e/ou prazo.

Por que assumir mais risco? Para se buscar maior rentabilidade, pois só existe sentido em se assumir um risco maior para se alcançar um maior retorno. Essa é uma das decisões que os investidores têm que tomar: se assumem ou não mais risco em busca de maior rentabilidade.

O que é risco? De maneira bem simples, podemos definir risco como a incerteza de que determinado fato aconteça como esperamos. Risco significa que você pode ganhar, mas que também existe a possibilidade de você perder. Quanto maior for o potencial de ganho, provavelmente, maior será o risco de alguma perda.

Destacaremos três tipos de risco: de mercado, de crédito e de liquidez.

O risco de mercado é o risco de oscilação no preço e/ou nas taxas dos ativos. Pode ser a oscilação no preço das ações, nas taxas de juros, na paridade cambial, no preço das commodities. Suponha que você compre uma ação por R$ 10,00 porque as avaliações técnicas apontam que o preço da ação deva atingir R$ 15,00 em um determinado período de tempo. Se tudo correr dentro das suas expectativas, o preço da ação poderá até superar os R$ 15,00, mas, se acontecer algum fato diferente, o preço da ação poderá cair e ficar abaixo dos R$ 10,00.

Risco de crédito é o risco da inadimplência. Sempre que você tiver que receber de alguém ou de alguma instituição, você está correndo risco de crédito. Quanto maior for a incerteza de que receberá o seu dinheiro de volta, maior será esse risco.

Risco de liquidez está relacionado com a velocidade de conversão de um ativo em dinheiro a um preço justo. Quanto maior for o prazo e/ou menor for o preço para conseguir vender um determinado bem, maior será o risco de liquidez.

Temos como eliminar completamente o risco? A resposta é não. Todo ativo tem algum risco, por menor que seja.

Importante: assumir risco não é ruim, desde que saibamos a que tipo de risco estamos expostos. Portanto, precisamos conhecer o nosso próprio perfil em relação ao risco: o quanto e em que grau podemos e estamos dispostos a corrê-lo.

Maria Angela Nunes Assumpção é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 13 de agosto de 2012.

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