Consultório Financeiro

Como a alta da inflação afeta o rendimento da NTN-B?

“Por que as NTN-Bs caem enquanto a inflação sobe?”

Lucas Signorini Reinhardt, CFP®, responde:  

NTN-Bs (o mesmo que Tesouro IPCA) são títulos públicos federais compostos por dois blocos de rentabilidade: inflação (medida pelo IPCA) e taxa prefixada. Em função disso, é comum se dizer que a NTN-B oferece juro real. Isso porque, independentemente de quanto esteja a inflação, o investidor receberá um “prêmio” (parcela prefixada) acima da inflação. Um investidor que adquire uma NTN-B conhece de antemão sua rentabilidade, por isso o que ocorre é que ele somente poderá contar com esse rendimento caso mantenha o título até a sua data de vencimento.

Em caso de venda antecipada, o investidor pode inclusive ter perdas substanciais se realizar a negociação em momentos desfavoráveis. Isso se deve ao fato de que a precificação diária dos títulos é feita pelo valor de mercado, não pelo preço da curva de juros projetada até seu vencimento, ou seja, o valor da venda será baseado em quanto o mercado está disposto a pagar pelo título naquela data, não na taxa proporcional pactuada na compra do título.

Mas por que é comum vermos NTN-Bs caindo em momentos de inflação alta?

Tomando como base dados do dia 18/04/21, o IPCA acumulado em 12 meses alcançava 6,10%, ou seja, um patamar alto (mais alto do que o teto da meta de inflação do país, inclusive), porém quando analisamos a rentabilidade acumulada da NTN-B com duration mais curta disponível no Tesouro Direto (vencimento em 2024) e também a opção com duration mais longa (vencimento em 2045), ambas acumulam queda de respectivamente 2,32% e 14,63% no ano, isto é, inflação alta e queda em títulos atrelados à inflação.

A explicação se deve a dois fatores. O primeiro já foi citado: sempre que o investidor decide se desfazer do seu título antes do vencimento, receberá o preço de mercado, não o preço da curva de juros, isto é, o preço da curva de juros somente pode ser considerado caso o investidor carregue o título até seu vencimento.

O segundo diz respeito ao porquê de essas flutuações ocorrerem. NTN-Bs não são simplesmente títulos que corrigem a inflação, são títulos prefixados corrigidos pela inflação. Isto é, na prática, uma NTN-B se comporta como um título prefixado, sofrendo deságio em momentos de alta nos juros e ágio em momentos de queda nos juros. Quando falamos dessas altas ou quedas nas taxas de juros não estamos falando da taxa Selic meta definida nas reuniões do Copom, mas dos contratos de juros futuros negociados em bolsa para os mais variados vencimentos (2024, 2030, 2035 etc.). Esses contratos são negociados diariamente na B3 e são afetados por uma série de fatores, entre eles a inflação, pois quando temos dados de inflação alta o mercado passa a trabalhar com taxa de juros mais altas, precificando de imediato os contratos de juros futuros, isto é, inflação alta pressupõe alta nos juros para controle da inflação, por isso é comum vermos cenários de inflação alta e queda nas NTN-Bs ocorrendo simultaneamente.

Vale lembrar que existem outros tipos de investimentos que são compostos em grande parte por NTN-Bs. É o caso de fundos de investimento que possuem nomes como IMA-B, inflação ou índice de preços, e também de títulos privados, como debêntures, CRIs e CRAs, com emissões atreladas à inflação, todos igualmente afetados pelas situações citadas acima.

Então, diante de tudo que foi citado, a recomendação é: tome cuidado ao se posicionar em investimentos atrelados à inflação em momentos de inflação alta. Sua carteira agradece. 

Lucas Signorini Reinhardt é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected] 

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected] 

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 31 de maio de 2021.

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