Consultório Financeiro

Como escapar das pirâmides financeiras

Tenho lido ultimamente sobre escândalos financeiros, muitas vezes relacionados a pirâmides. Recebi algumas propostas de ganhos expressivos, mas estou inseguro. Qual a melhor maneira de proceder para tentar identificar problemas desse tipo?

Tobias Maag, CFP®, responde:

Caro leitor, você já venceu a primeira etapa na tentativa de não cair num conto do vigário, reconhecendo o possível risco e procurando orientação. Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém… 

Ganhos expressivos são sempre bem-vindos, mas é preciso avaliar se são realistas ou claramente exagerados dentro do cenário no qual são oferecidos. É necessário entender o que exatamente lhe está sendo oferecido, por que e a probabilidade dos ganhos propostos serem tão expressivos. Sugiro comparar com os rendimentos de outros indicadores financeiros que possam servir como referência, como o Índice Bovespa, a taxa Selic, IPCA, poupança, títulos públicos oferecidos no Tesouro Direto, rentabilidade de fundos de investimento com perfil de risco semelhante ao investimento proposto etc. 

O bom senso em relação ao que pode ou não ser razoável já é um critério importante! Na dúvida, procure ajuda da CVM, órgão regulador do mercado de investimentos no Brasil, ou de profissional qualificado e isento. 

Verifique eventuais garantias, estude o regulamento, avalie a idoneidade de quem lhe faz as propostas e de quem é responsável pela gestão dos recursos. Analise a estrutura de custos, taxas e comissionamentos. Julgue se há um equilíbrio razoável entre o que lhe é oferecido, a remuneração e possíveis outros interesses próprios dos ofertantes. 

Caso haja muita dificuldade para averiguar as informações, pode haver falta de transparência, péssimo sinal para bons negócios. Sugiro considerar seriamente se vale a pena correr o risco e como conviverá com um eventual resultado negativo naquilo que pode ser uma “loteria”, ou ainda um golpe mais ou menos bem disfarçado. Infelizmente, parte do mercado é movida pela ganância, que nos tenta a tapar o sol com a peneira. 

Avalie ainda se a proposta lhe está sendo ofertada de forma muito agressiva, destacando exageradamente benefícios ou mesmo prometendo brindes, festas e contatos estrelados. Muitas destas vendas são feitas apelando para vulnerabilidades emocionais, afetivas ou outras das “vítimas”. 

Lembre-se que as aparências podem enganar facilmente. A memória de alguns casos, como o de Bernard Madoff, nos EUA, mostra que “arquitetos” de colossais falcatruas podem ser, durante muito tempo, personalidades celebradas. Fique atento também aos “picaretas” menos “geniais”, passíveis de serem encontrados em qualquer lugar. 

Existem muitas variações de esquemas de pirâmide. O sucesso deles apoia-se no crescimento exponencial de novos membros. Você normalmente só ganha se trouxer novos “investidores”. 

Não cair na tentação do lucro fácil pode ser uma rota segura. Na dúvida, não aposte! Melhor se arrepender algumas vezes de não ter se arriscado no que não entendeu do que precisar lamentar um prejuízo significativo, ou pior, se ver às voltas com criminosos. Quando a esmola é muita até o santo deve desconfiar, diz o ditado. 

É necessário lembrar que ganhos expressivos podem ser oferecidos, mas não garantidos (se encontrar, me avise!). Ainda assim, nem tudo que parece bom é ruim! Portanto, cuidado também para não perder oportunidades reais por simples insegurança. 

Lembre-se de que expectativa de rentabilidade superior pressupõe aceitar riscos mais altos, e que nenhuma promessa ou resultado passado garante resultados futuros, independentemente de quem lhe fez uma proposta tentadora.


Tobias Maag é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 21 outubro de 2013

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