Consultório Financeiro

Como montar o plano para trocar de casa

Tenho 12 anos de casado e possuo uma casa própria e estamos planejando trocar para uma casa maior em pelo menos dois anos, mas gostaria de saber como montar um bom planejamento. Devo, por exemplo, poupar dinheiro, vender nossa casa, adequar as parcelas à nossa realidade (o que com nossa renda é um pouco difícil, pois na última pesquisa as parcelas ficaram muito altas, em cerca de R$ 2.000,00). Não encontrei nada na internet que possa nos ajudar.

Valter Police, CFP®:

Caro leitor, cabe um breve preâmbulo sobre a compra de imóveis. Possuir o espaço desejado para as atividades familiares ou a localização mais prática e segura, entre tantos outros fatores que podem fazer a vida da família mais feliz, parecem, por vezes, valer quaisquer sacrifícios. 

Mas há o outro lado desta moeda – que não é bonito – quando a família “dá um passo maior do que as pernas”. É assim que o sonho vira pesadelo. 

Isto se dá porque estamos muito influenciados pelo desejo (emoção) de possuir aquele imóvel. Isto nos tira, muitas vezes, o bom senso da análise crítica (razão) sobre a situação financeira presente e, mais importante ainda, de sua perspectiva futura. Por estarmos tão influenciados, temos um viés muito otimista, ao invés de uma visão realista, o que pode ser perigoso. 

Talvez o valor da parcela caiba no orçamento de hoje, mas, se isto torna o orçamento muito justo, quem garante que no futuro ela continue cabendo? Ou ainda, será que por causa disso, não sobrará mais nenhum recurso para poupar pensando na aposentadoria? 

Com esta introdução, vamos às análises financeiras. Monte a seguinte equação: preço do imóvel desejado menos valor disponível menos preço do imóvel atual. 

Você irá descobrir se haverá necessidade de inclusão do imóvel atual na negociação e de quanto será a necessidade de um eventual financiamento. 

Com o valor do financiamento conhecido, sugiro que se façam diversas simulações em bancos para descobrir o valor da parcela, com um prazo que seja confortável para você – lembrando que, quanto menor, melhor. 

Este valor da parcela deve se encaixar em seu orçamento familiar e ainda permitir que haja algum fôlego para poupança e imprevistos, porque, em prazos mais longos, eles sempre acontecem. 

Para que a parcela e o prazo sejam os menores possíveis, você tem duas alternativas: escolher um imóvel que seja mais em conta e/ou aumentar o valor da entrada. 

Para a primeira, a recomendação é que não sejam tomadas decisões impulsivas, mas muito bem pensadas e discutidas. 

Quanto à segunda, o ideal é que se dê tempo ao seu dinheiro para crescer e que ele fique em aplicações que ofereçam uma boa rentabilidade, mas com segurança. Além disso, durante o período de espera, o ideal é aumentar a poupança mensal, reforçando a capacidade financeira da entrada no imóvel. 

Para o prazo que você descreve – dois anos -, a rentabilidade de uma aplicação não será muito alta, porque o efeito dos juros compostos ainda não será tão sentido. Aplicações em CDBs e títulos do Tesouro, principalmente pós-fixados, podem aumentar seu retorno, se comparados à caderneta de poupança, e terão muito menos risco do que aplicações em renda variável. 

Assim, resumindo:

1) Poupe o máximo possível e aplique bem seu dinheiro – isto aumentará o valor da entrada;

2) Escolha seu próximo imóvel com a razão;

3) Pesquise as melhores condições de financiamento e escolha uma parcela confortável com o menor prazo possível.

Desta forma seu sonho terá menores chances de se tornar um pesadelo.

Valter Police é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected] 

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 19 de maio de 2014.

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