Seu Planejamento Financeiro

Continuar no aluguel para dar entrada ou comprar agora?

João Botosso, CFP®, responde:

Partindo do princípio de que você está decidido pela compra do bem e não tem pressa para realizar esse sonho, é melhor economizar, investir e comprar o imóvel daqui a três anos. Mas é importante contextualizar porque, se me perguntasse isso há um ano e meio aproximadamente, talvez a resposta naquele momento seria “compre agora”.

Três conceitos são fundamentais para ajudá-lo nessa tomada de decisão: taxa Selic, IPCA e ciclos econômicos. Começando pela Selic, a taxa básica de juros da economia, ela impacta todas as outras taxas de juros no Brasil, como as cobradas em financiamentos e até a remuneração de aplicações como a renda fixa, por exemplo. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é um dos índices de inflação mais tradicionais e mede a variação de preço de produtos e serviços consumidos por famílias brasileiras. Já os ciclos econômicos são flutuações da atividade econômica caracterizadas por períodos de expansão, nos quais a taxa Selic cai para reduzir as taxas dos empréstimos e assim estimular o consumo, e contração, em que acontece o inverso. Quando há estímulo ao consumo, geralmente há aumento da inflação, ou seja, produtos e serviços ficam mais caros, causando redução no seu poder de compra.

Entre agosto/2020 e março/2021, chegamos à menor taxa Selic de todos os tempos, 2% ao ano, e uma inflação média de 4,5% ao ano. Isso foi resultado do impacto causado pela pandemia de coronavírus. As pessoas ficaram isoladas em suas casas e reduziram o consumo de bens e serviços, o que provocou os Bancos Centrais ao redor do mundo a reduzir juros para continuar a fazer a roda girar. Somado a isso, foram injetados bilhões nas economias em forma de auxílio emergencial, ou seja, havia muita liquidez no mercado, num cenário de expansão. Nessa época, as taxas de financiamento imobiliário eram em média 7% ao ano, bem baixas. Um investimento do tesouro Selic rendia 2% ao ano e perdia para a inflação.

Com o início da vacinação, aos poucos a atividade econômica foi se retomando. Começou então um descasamento entre oferta e demanda: um mercado com muita liquidez, ávido pelo consumo, e oferta insuficiente, principalmente de commodities como alimentos e petróleo, afinal o mundo havia parado. Resultado? Os preços dispararam e o IPCA 2021 fechou em 10,06%. Iniciou-se então a alta da Selic pra conter a inflação, um cenário de contração. Hoje o juro básico está em 11,75% ao ano e projeção para finalizar 2022 com 12,75%, o que poderá trazer a inflação para perto de 5%. Isso acontecendo, o tesouro Selic terá ganho acima da inflação de quase 8%. Quanto à taxa cobrada em financiamentos imobiliários, hoje a média é de 9,5% ao ano.

Trazendo essa visão macro para sua realidade, comprando um imóvel hoje você irá financiá-lo com uma taxa quase 50% maior. Quanto ao investimento, você tem disponível, por exemplo, um título do Tesouro Nacional com vencimento em agosto/2026 remunerando IPCA + 5,6% ao ano, um ganho acima da inflação. Sobre o imóvel, é bem provável que esteja mais caro hoje, mas isso não quer dizer que daqui a 4 anos ele esteja mais caro ainda.

Como a compra de um bem é uma decisão que envolve alto volume financeiro, que muitas vezes é financiado em contratos de longo prazo, analisar os ciclos econômicos pode ajudar você a minimizar os custos da operação. Acompanhar esses indicadores será importante para eventuais ajustes de rota. Conte com apoio profissional para ajudá-lo na escolha do investimento mais apropriado para seu perfil de investidor e seus objetivos. Da mesma forma, consulte um profissional do ramo imobiliário para assessorá-lo na escolha do imóvel com melhor custo-benefício. Fique atento também às taxas de financiamento no seu banco e seja muito feliz com a realização de mais esse sonho.

João Botosso é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

Texto publicado no site Época Negócios em 22 de março de 2022.

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