Consultório Financeiro

É melhor abater o financiamento imobiliário ou investir?

“Recebi um dinheiro e estou em dúvida entre abater parte do meu financiamento imobiliário ou investir. O que é mais vantajoso? Caso eu decida abater, é melhor reduzir o tempo do empréstimo ou o valor da prestação?”

Renato S. Faraco, CFP®, responde:

Prezado investidor, sua questão é recorrente entre aqueles que possuem um financiamento imobiliário e uma avaliação criteriosa das opções existentes pode trazer um ganho financeiro relevante em suas finanças pessoais. Analisar as principais condições que podem afetar sua decisão é importante para encontrar a alternativa mais interessante.

Comece pela formação de uma reserva financeira de emergência para cobrir gastos imprevistos, principalmente em situações em que há perda temporária de renda, como no caso de uma demissão ou interrupção da sua atividade profissional. Em geral, recomenda-se que o montante dessa reserva seja suficiente para cobrir seus gastos por um período de 06 a 12 meses e esteja alocado em investimentos de perfil conservador, com baixa volatilidade e boa liquidez, mesmo que os rendimentos auferidos sejam menores.

Se você já possui essa reserva, ou se após formá-la ainda tem recursos para outra alocação, identifique se não terá outros destinos possíveis para esses recursos, como a troca ou compra de um veículo, uma viagem internacional em família, ou ainda um investimento em negócio próprio que poderá melhorar sua renda. Nesses casos, talvez manter os recursos aplicados até que sejam utilizados pode ser importante para evitar um novo financiamento.

Não sendo esse o seu caso, retorna-se à pergunta: o que é mais vantajoso, investir os recursos que você tem disponíveis ou utilizá-los para abater seu financiamento imobiliário?

Para comparar as duas opções, deve-se levar em conta:

– no caso de um investimento, apenas as opções que estejam alinhadas ao seu perfil de risco como investidor, que pode ser mais conservador, moderado ou mais agressivo. E alinhadas ainda a um horizonte de tempo semelhante ao do prazo restante de seu financiamento imobiliário. Atendidos esses dois quesitos, risco e prazo, você deve considerar, ao comparar com o custo do financiamento imobiliário, a taxa bruta anual de juros esperada dos investimentos, ou seja, sem descontar o imposto de renda que eventualmente incida sobre os rendimentos;

– no caso do financiamento imobiliário, que a taxa do custo efetivo que você deve considerar em uma amortização será bem próxima à informada no seu contrato como CET (Custo Efetivo Total), que engloba não somente a taxa de referência dos juros, mas também outros custos que incidem sobre o valor financiado, como seguros. Assim, pode-se utilizar o CET como base de comparação nessa análise.

De posse do CET e da taxa anual de juros esperada dos seus investimentos, se algum investimento projetar taxas maiores que o CET, invista nele. Se os investimentos projetarem taxas menores que o CET, amortize o saldo devedor ou o quite. Por exemplo, se sua taxa de financiamento está em 8,5% a.a. e a taxa Selic em 3,50% a.a., será difícil encontrar um investimento que renda mais, exceto aqueles de alto risco, ou seja, abater a dívida torna-se mais vantajoso do que investir o dinheiro. Em resposta à sua segunda pergunta, reduzir o prazo restante do financiamento diminui as incertezas decorrentes do tempo, enquanto reduzir o valor mensal das prestações alivia suas despesas atuais. Avalie qual desses benefícios é mais importante para você neste momento.

Boa sorte!

Renato S. Faraco é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Email: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 05 de julho de 2021.

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