Consultório Financeiro

É possível obter bons rendimentos com baixo risco?

Com a expectativa de redução da Selic, muitos insistem que devo buscar produtos mais arriscados para manter os ganhos do passado. Mas sou conservador e não considero aplicações que possam se transformar em perda. É possível obter bons rendimentos com baixo risco?

Fredy Tavares, CFP®:

A redução da Selic é dada como certa. A dúvida é a intensidade dessa queda. Os juros elevados do passado, que permitiram ganhos superiores a 1% ao mês por anos, não deverão ser vistos – e essa é a razão de muitos recomendarem a renda variável. Essa seria uma forma de compensar o menor desempenho dos produtos tradicionais.

Mas o cenário internacional não se mostra animador e os dados econômicos apontam para anos de baixo crescimento na Europa e EUA. Como a bolsa brasileira é bastante ligada a commodities, a desaceleração da economia será refletida nesse mercado, podendo frustrar as expectativas de investidores com menor propensão a risco e horizonte de investimento.

Melhor retorno com produtos de baixo risco será possível desde que o investidor se proponha a lidar com menor liquidez. Mas como o brasileiro é “viciado” em liquidez diária, muitas vezes seus portfólios se resumem a dois produtos: um CDB e fundo DI ou de renda fixa. Quanto mais líquidos os produtos, menores são seus retornos. Por isso, a chave para o sucesso será a mensuração do quão líquido o portfólio precisa ser e, a partir disso, distribuir os recursos entre: curto prazo (liquidez diária), médio prazo e longo prazo. Levando em consideração apenas os títulos privados, alguns se destacam para a montagem do portfólio.

Para aqueles em dúvida quanto ao horizonte de investimento, os CDBs escalonados são uma excelente alternativa. Oferecem possibilidade de resgate a qualquer momento, mas recompensam o investidor com aumento da taxa de acordo com o prazo de permanência. Ou seja, se o investidor não fizer resgates receberá aumentos progressivos de taxa, atingindo retornos geralmente superiores ao CDI no seu vencimento. É um ganho duplo, pois também atingirá a menor alíquota de IR (15% após dois anos).

As Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras Crédito do Agronegócio (LCA) se destacam pela isenção de imposto de renda para as pessoas físicas. Como geralmente são negociadas com prazos de carência para resgate, o investidor deve considerar esses produtos para os recursos de médio e longo prazos. Vale destacar que a isenção de IR tem um poder significativo no retorno do investimento, proporcionando níveis de rentabilidade que dificilmente os produtos de farta liquidez conseguem acompanhar.

Os juros menores permitirão às grandes empresas uma forma mais saudável de financiamento, como o acesso ao mercado de capitais com a emissão de debêntures. Com mercado secundário ainda limitado, quem adquirir esses títulos deverá carregá-los até o seu vencimento, reduzindo a liquidez de seus portfólios. Por outro lado, terão um produto com retorno superior ao CDI e, dependendo da empresa emissora, nível de risco tão bom quanto o dos grandes bancos.

Para aqueles que dispõem de ao menos R$ 300 mil para sua parcela de longo prazo, as Letras Financeiras são ainda mais vantajosas. Com prazo de emissão mínimo de dois anos, não oferecem possibilidade de resgate antecipado e o mercado secundário também é bastante incipiente. Mas as LFs compensam esse aspecto com taxas interessantes e ainda mais atraentes que os produtos de maior liquidez – ou mesmo que as debêntures.

A chave para o sucesso será trabalhar bem a questão da liquidez do portfólio. A diversificação tão debatida nos últimos anos ainda está em pauta, mas aproveitar bem as oportunidades oferecidas pelos títulos de renda fixa de emissão privada poderá ser o diferencial em momentos de redução de juros e incertezas no mercado acionário.

Fredy Tavares é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 19 de dezembro de 2011.

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