Consultório Financeiro

É ruim ter mais de uma conta corrente no banco?

“Gostaria de saber se ter mais de uma conta corrente no banco é uma grande besteira?”

Paula Sauer, CFP®, responde

Olá leitor, também não é para tanto. De uma maneira geral, ter uma ou mais contas correntes está relacionado com o momento de vida e também a forma como são administrados os seus recursos. Não existe certo ou errado, mas o mais adequado para você.

Veja alguns exemplos:

Um jovem em seu primeiro emprego, com uma só fonte de renda, dificilmente precisará de mais de uma conta corrente. Tenha em mente que ter duas ou mais contas, significa ter também dois ou mais saldos para administrar, duas ou mais faturas e anuidades de cartão de crédito, mais tarifas bancárias…

Algumas situações podem levar o indivíduo a ter uma outra conta. Um indivíduo com mais de um vínculo empregatício e as empresas efetuam o pagamento dos recebíveis em bancos diferentes. O ideal é abrir a segunda conta como uma conta salário bem simples em que pode haver tarifa bem pequena ou isenção; pode-se ainda, solicitar a portabilidade de seus rendimentos para a conta que traga mais benefícios e facilite seu planejamento financeiro.

Outra situação, é observada entre casais. Você combinou com seu parceiro que além das contas individuais, teriam uma conta conjunta para facilitar o pagamento das despesas de casa ou gastos em comum. Dependendo da relação que cada um de vocês tiver com o dinheiro, pode ser uma excelente solução, ou um tiro no pé. Precisa conversar bastante antes de organizar as finanças dessa maneira.

Algumas pessoas mantêm mais de uma conta corrente para se beneficiar dos dias sem juros no cheque-especial para cobrir o descasamento do seu fluxo de caixa (diferença entre a data de entrada das receitas e os débitos e pagamentos de contas). Isso não é ruim, desde que você não utilize o cheque especial como complemento de renda e seja organizado. Acompanhe de perto os dias utilizados; são contabilizados os dias corridos e alternados, feriados e final de semana.

Se um outro banco te ofereceu algum benefício ou produto específico, justificando a abertura de outra conta, converse com o gerente da conta atual, quem sabe ele pode te oferecer benefício semelhante ou melhor?

Pode acontecer de se abrir outra conta e não encerrar a anterior. A psicologia econômica explica com nomes difíceis, comportamentos extremamente comuns: um deles, é o viés do “status quo”; nos acomodamos em uma determinada situação, mesmo que não seja ideal, que nos traz despesas desnecessárias ou até mesmo prejuízos financeiros.

Um outro viés comportamental que nos leva a manter mais de uma conta, está relacionado à procrastinação, aquele famoso “empurrar com a barriga” em que se adia a decisão para um outro momento. A desculpa mais tradicional que nos damos é a de “não tenho tempo” para resolver isso agora. Defina prioridades, caso contrário, algumas decisões caem no esquecimento.

Eleja como sua conta principal aquela em que você tem um bom relacionamento com a agência, maior facilidade na utilização dos aplicativos de movimentação da conta, onde estão seus investimentos, empréstimos de longo prazo e contas de consumo ou aplicações mensais cadastradas em débito automático.

Ah! O débito automático não é um vilão, ele pode te disciplinar e criar o hábito de investir dinheiro e te ajuda a manter as contas em dia em  caso de viagens, por exemplo.

Pense na sua rotina. Ter mais de uma conta pode ser bastante adequado ou não para seu momento de vida. Se não for, não adie por muito tempo a decisão de encerrá-la. Com o tempo as tarifas podem virar uma bola de neve e trazer transtornos.

Paula Sauer é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões da autora, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 18 de setembro de 2017.

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