Consultório Financeiro

Meu fundo de previdência está indo mal na crise. Devo mudar?

Possuo uma aplicação corporativa que hoje representa algo em torno de R$ 36 mil, com aportes mensais de R$ 200. A rentabilidade desse fundo está negativa em 2,344% no mês e 4,84% no ano. Caso decida encerrá-lo, pagaria 15% de IR sobre o ganho. Penso em duas situações: 1) Migrar para outro fundo, também da empresa, que está com rentabilidade positiva de 0,607% no mês e de 6,18% no ano; 2) Resgatar todo o dinheiro, pagar o IR e aplicá-lo em carteira que rende 10% ao ano mais a variação do IGP-M (livre de IR). O que opinam?

Gisele Colombo de Andrade, CFP®:

Antes de emitir uma opinião, gostaria de fazer um convite para visitarmos o momento em que você fez a opção pelo seu plano atual: qual foi a razão de ter escolhido um produto que, pelo que conhecemos, pode investir até 49% de seu patrimônio em renda variável (ações)?

Nos tempos de mercados difíceis, tem sido muito frequente entre os investidores uma busca por ativos de renda fixa (percebidos como mais seguros) e certo arrependimento por ter investido em renda variável ou em produtos mistos, balanceados.

Provavelmente, quando você começou a fazer essa reserva, a análise de rentabilidade passada deve ter pesado na definição do destino dos seus recursos (houve momentos excepcionais para a renda variável). Mas como o mercado é cíclico, os resultados dos últimos 15, 20 meses têm sido ruins, difíceis de suportar.

Pausa aqui. Para que você faz essa poupança? Por que se utiliza de um veículo de previdência privada (é o que deduzimos das informações que temos)?

Vou supor que você foi orientado a utilizar um PGBL para ter uma redução na sua renda tributável anual, em até 12% do total auferido, o que permite um diferimento do IR. Como esses instrumentos são feitos para incentivar a poupança de longo prazo, existe a opção pela tabela regressiva de IR, a qual permite atingir a alíquota de 10% de IR sobre o valor acumulado a partir de 10 anos.

Isso tudo para comentar que, se você fez um investimento de longo prazo e em algum momento sentiu apetite por risco, visando buscar um retorno maior no tempo, talvez a melhor decisão seja aguardar um novo ciclo de recuperação dos preços das ações. Esse novo ciclo pode vir a compensar este momento de desvantagem com relação aos ativos de renda fixa.

Tente considerar que o mundo todo vive um momento de juros incrivelmente baixos (e o Brasil também deverá caminhar para isso). Por isso, se você não tiver necessidade de utilizar os recursos, não precisa realizar essa perda, pois o momento de aversão a risco deverá ceder lugar a uma busca por retornos melhores (ainda que esse horizonte provavelmente não esteja tão próximo).

O que poderia minimizar esse impacto da rentabilidade negativa no curto prazo seria a possibilidade de fazer seus novos investimentos mensais em uma das outras opções que você tem, balanceando de maneira um pouco mais conservadora o seu portfólio atual. Para decidir com tranquilidade e segurança, verifique a quais riscos estão sujeitos os produtos disponíveis, como proteção em ambiente inflacionário, risco de taxas de juros prefixadas e risco de crédito (renda fixa não é sinônimo de ausência de risco!).

Se sua opção for mesmo migrar os recursos, verifique se o plano em que você está permite a portabilidade, de forma que você não precise efetuar um resgate e tributar seu ganho. Essa ferramenta está disponível para os planos de previdência privada aberta, criando a possibilidade de ajustar o perfil do investimento ao momento de vida de cada participante.

Quanto a resgatar tudo para alocar num único título com a promessa de rentabilidade elevada e livre de IR, eu pensaria em analisar bem fatores como liquidez, prazo do investimento, risco de crédito envolvido (quem é o emissor?) e a concentração. Diversificar pode parecer um conceito “batido”, mas a história (inclusive recente) mostra que essa estratégia tem o poder de proteger carteiras nas crises e proporcionar retornos mais consistentes no longo prazo. Fuja dos milagres – no mercado financeiro, eles não existem!

Gisele Colombo de Andrade é Planejadora Financeira Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 03 de outubro de 2011.

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