Consultório Financeiro

Orçamentos pessoais versus empresariais

É possível fazer um orçamento familiar com o conhecimento usado na elaboração de orçamentos em empresas? Como devo tratar o assunto com a minha família sem agir como um executivo de multinacional?

Marcelo Henriques de Brito, CFP®, responde:

Realmente não se deve transpor ao ambiente doméstico os procedimentos e os comportamentos do ambiente corporativo. Enquanto a meta de crescer a rentabilidade permeia em geral a elaboração dos orçamentos nas grandes empresas, as famílias devem elaborar orçamentos com foco em assegurar o seu bem-estar. Aliás, o objetivo de prazer pode nortear os orçamentos de pequenas empresas familiares, quando a família empreendedora almeja um rendimento conveniente, evitando procedimentos que acarretariam um nível inaceitável de estresse. A chamada profissionalização de empresas familiares ocorre precisamente quando muda a maneira como a família lida com os seus negócios. 

Ao desejar uma postura pragmática e impessoal na área financeira, é também profissionalizada a elaboração do orçamento da empresa familiar. Um maior controle no uso dos recursos da empresa inclusive impede aquelas retiradas descontroladas do caixa para cobrir gastos caprichosos de parentes, que poderiam ameaçar a sobrevivência do negócio. 

Para que a implementação de orçamentos seja bem sucedida, é fundamental o apoio e o envolvimento incisivo dos principais responsáveis, sendo fortemente aconselhável que os demais envolvidos sejam consultados e até concordem com as partes que lhes afetam diretamente. 

No caso específico de famílias, em que não há tradição na elaboração de orçamentos, faz-se necessária a existência de atividades que promovam uma conscientização sobre a relevância do orçamento familiar. Agrega a família e estimula conversas sobre suas finanças assistir a filmes que levem a reflexões sobre o planejamento financeiro e as consequências de se gastar desmesuradamente. Independentemente de suas características cinematográficas, os filmes “Delírios de Consumo de Becky Bloom” (Jerry Bruckheimer, 2009) e “Até Que A Sorte Nos Separe” (Roberto Santucci, 2012) devem fomentar debates sobre finanças pessoais em um momento lúdico, o que comprovadamente favorece a reflexão criativa e a fixação de conceitos. Vale pesquisar outros filmes com tramas ou cenas que desenvolvam a educação financeira. 

Com envolvimento e interesse pelas finanças pessoais, a família deverá discutir com sinceridade e detalhar por escrito um orçamento, composto de várias informações, tais como: as expectativas de receitas e despesas (subdivididas em habituais, esporádicas e excepcionais) e as quantias a serem destinadas a investimentos financeiros e a projetos especiais (por exemplo: cursos de especialização, viagens ou obras na residência). Devem igualmente ser ponderadas as incertezas e também as implicações tributárias e sucessórias do orçamento. 

Antes de cogitar o uso de um software especial para a preparação do orçamento doméstico, procure executar tal tarefa com uma planilha em Excel. Além da maioria dos computadores já ter este programa instalado, várias pessoas já sabem usá-lo bem. Procedimentos simples e acessíveis levam em geral aos resultados mais eficazes. 

A motivação e a simplicidade facilitam o engajamento familiar com a montagem e o monitoramento de orçamentos num processo contínuo. Neste contexto, segue a reflexão de Antoine de Saint-Exupéry no livro “Voo Noturno”: “Na vida, não existem soluções. Existem forças em marcha: é preciso criá-las e, então, a elas seguem-se as soluções”.

Marcelo Henriques de Brito é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected] 

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 19 de agosto de 2013

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