Consultório Financeiro

Por que gasto menos do que ganho, mas não sobra nada?

“Ao listar as minhas despesas sempre penso que gasto menos do que ganho, mas nunca sobra nada na minha conta. O que pode estar acontecendo?”

Maria Angela Nunes, CFP®, responde: 

Prezado(a) leitor(a), a situação que você está descrevendo, infelizmente, é a realidade de um bom número de pessoas.

Pela relevância do tema, fico feliz em buscar responder a sua pergunta: o que pode estar acontecendo? A resposta poderá ser útil não apenas para você, como para outras pessoas na mesma situação.

A seguir vou citar as causas que considero como mais prováveis em relação a “listar despesas” mas não conseguir fazer um controle financeiro adequado:

Considerar renda bruta — a experiência tem mostrado que muitas pessoas, quando pensam em quanto ganham, têm a tendência a considerar a sua renda antes dos descontos e/ou custos para gerá-la. No caso do assalariado, existe pelo menos o desconto do INSS e Imposto de Renda (IR) conforme a faixa salarial, além de muitas vezes ocorrerem descontos relativos à saúde, alimentação, previdência privada etc. Para quem tem uma pessoa jurídica, conforme a estrutura de constituição da empresa, pode haver o custo de contador, tributos, tarifas bancárias etc, além dos custos operacionais para o funcionamento do negócio. Ou seja, pode ser que as contas não batam por contam de se considerar que as rendas/receitas recebidas são maiores do que efetivamente o são.

Contas Mentais — muitas vezes as pessoas não fazem registros sobre as despesas e desembolsos de uma maneira organizada e usando, por exemplo, um caderno, uma planilha ou um aplicativo e acabam fazendo registros “de cabeça”.

Registros Parciais — outros optam por registrar apenas as despesas/desembolsos mais relevantes — como por exemplo: aluguel ou financiamento do imóvel, condomínio, despesas gerais de moradia (luz, gás, água), mensalidade escolar, plano de saúde etc. Nesse caso, por terem uma noção do que acreditam ser a maior parte dos seus compromissos financeiros, consideram desnecessário o registro das despesas de “menor valor” ou não preestabelecidas — os lanches eventuais, o taxi, o cafezinho com o pão de queijo, os presentes, as tarifas bancárias, a ração do cachorro e … por aí vai — por acharem que o impacto desses desembolsos não terão um efeito relevante no orçamento.

Compras parceladas e débitos automáticos em conta corrente ou no cartão de crédito — vale a pena lembrar também das compras parceladas que muitas vezes são esquecidas nos meses seguintes a sua realização por falta de registro adequado. Esse esquecimento também é comum no caso de débitos automáticos.

Para qualquer uma das situações citadas acima haverá, inegavelmente, uma imprecisão nos resultados que poderá levar a situação colocada por você, prezado(a) leitor(a): “sempre penso que gasto menos do que ganho, mas na minha conta nunca sobra nada.”

Para que você tenha uma ideia precisa do seu dia a dia financeiro, o caminho é fazer um orçamento detalhado, no qual você registre todas as suas receitas (com os seus respectivos descontos e/ou custos) e todas as suas despesas e desembolsos. Só através do orçamento você será capaz de estabelecer como anda a sua capacidade de poupança (receitas líquidas menos  despesas) e quais os ajustes necessários e possíveis que deverão ser feitos para melhorá-la.

Muitos não fazem orçamento por falta de disciplina ou por achar muito “trabalhoso” fazê-lo e dizem que precisam de uma super planilha. Desmistificando: você pode fazer o seu orçamento até em um caderno.  O mais importante é que você faça o orçamento detalhado.

Acredite, orçamento é um instrumento libertador! Pois, através dele você passará a enxergar melhor de onde vem e para onde vai o seu dinheiro, e a decidir de forma mais eficiente como utilizá-lo e como criar reservas para atingir os seus objetivos. Sucesso!

Diana Benfatti é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões da autora, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 07 de agosto de 2017

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