Qual o valor ideal para a reserva de emergência para o caso de eu ficar desempregado?
Deter conhecimento e controle do orçamento familiar é imprescindível para que a reserva de emergência seja usada de forma racional e que não se esgote antes do previsto
Enio Secchi CFP®, responde:
Essa pergunta é parecida com “qual é o melhor sabor de sorvete?” ou “qual a roupa ideal para um jantar de negócios?”: a resposta sempre será variada, pois as pessoas têm hábitos de consumo diferentes, orçamentos domésticos distintos e fontes de renda as mais diversas. Não se pretende neste artigo propor um valor absoluto como receita mágica para superar um período de transição entre empregos, mas dar uma ideia simples de quantos salários o indivíduo deve possuir em uma aplicação financeira bem conservadora e com liquidez imediata para se sustentar durante um hiato de renda. Primeiramente é preciso entender o conceito de reserva de emergência e quais são suas finalidades.
Para grande parte dos especialistas em finanças, a reserva de emergência é um valor que representa uma quantidade de vezes do orçamento mensal de uma pessoa ou família, constituído aos poucos ou de uma só vez, depositado em investimentos financeiros muito líquidos. E o mais importante: esses recursos só devem ser acessados em momentos adversos do orçamento familiar e em situações imprevistas, tais como o eventual desemprego do provedor da família enunciado na pergunta ou outros eventos como a perda ou diminuição drástica de renda, problemas de saúde ou acidentes sem cobertura de planos ou seguros, danos ou reparos emergenciais na residência, entre outros. Ou seja, é um colchão de liquidez para ser utilizado em casos específicos, assim como ocorre nas indenizações de seguros: é preciso haver um sinistro, um evento imprevisto e inadiável que obrigue o levantamento daquele recurso.
Muitos textos disponíveis sobre o assunto vão falar de múltiplos de três, seis ou até doze meses do valor do salário ou do orçamento mensal de uma família como sendo o valor ideal para se manter sob a rubrica de uma conta de reserva. Mas é fundamental que se analisem outras variáveis, como a profissão do investidor, a situação econômica do país onde atua e as condições que o levaram a ficar desempregado. Por exemplo, um programador de computadores atualmente consegue se recolocar mais rapidamente no mercado de trabalho do que um trabalhador da indústria metalúrgica. Isso tem a ver com a demanda pelo tipo de trabalho e não com a competência individual de cada um deles. Nesse exemplo, seria recomendável uma reserva de emergência maior para o segundo profissional.
Outra variável que deve ser levada em conta são as outras fontes de renda mensal que uma casa possui, como o salário do cônjuge ou de outro integrante familiar, ou receitas de imóvel alugado ou de fundos imobiliários. Da mesma forma que diversificamos o risco dos nossos investimentos, ter mais de uma fonte de renda é uma forma de diversificar o risco da interrupção ou supressão de alguma delas. O conceito de “receita passiva” está ficando cada vez mais comum, tanto no mundo físico quanto no digital, e aqueles indivíduos que possuem valores que entram periodicamente em conta, como royalties de direitos autorais, comissões de vendas por afiliação on-line, criação de conteúdo digital, entre outros, terão uma necessidade de reservas de emergência menor do que a daqueles que não os têm.
E, se o desemprego for causado por questões conjunturais, como uma crise econômica mais severa ou uma pandemia como a que enfrentamos recentemente, a reserva deverá contar com um número maior de salários, uma vez que a recolocação profissional tende a ser mais difícil e demorada em cenários como esses.
Deter conhecimento e controle do orçamento familiar é imprescindível para que a reserva de emergência seja usada de forma racional e que não se esgote antes do previsto. Não espere a ameaça do desemprego bater à sua porta para começar a constituir esse montante e escolha investimentos financeiros com baixo risco de crédito e de mercado, e, acima de tudo, com muita liquidez, como Tesouro SELIC, CDB ou Fundos DI, para que esses valores tenham rendimento durante a fase de acumulação e poupança, e estejam disponíveis imediatamente quando o uso se fizer necessário.
Só você, leitor, conhecendo seu orçamento e sua realidade financeira, saberá responder com precisão quantos meses de salário precisará ter reservados para ultrapassar o período desafiador de um desemprego inesperado ou de uma recolocação profissional planejada.
Enio Secchi é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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Texto publicado na Revista Época em 28 de setembro de 2022.