Seu Planejamento Financeiro

Saí da sociedade e fiquei com dívidas altas. O que fazer?

Acabo de sair de uma sociedade de 3 restaurantes, fui lesado financeiramente e fiquei com muitas pendências. Tenho dívidas de quase R$ 70 mil em 2 bancos. Isso na conta física, que usei para fazer investimentos na empresa. Atualmente estou sem fonte de rendas e me separando burocraticamente da sociedade. O que devo fazer”?”

Eliane Metzner, CFP®, responde:

A sociedade é como um casamento: quando dá certo traz alegrias genuínas e intensas, mas quando dá errado, o estrago pode ser grande, tanto emocional como financeiramente. E aí tem que reconstruir, consertar ou recomeçar, analisando cada situação.

Se a perda de confiança foi irreversível, é hora de reorganizar e seguir em frente. Para isso, oriento os seguintes passos:

  1. Faça um diagnóstico completo: tome ciência completa da situação, um diagnóstico bem detalhado e realista. Além do valor total das dívidas, é preciso saber as condições de cada uma, taxas, prazo, parcela e quais garantias foram oferecidas ao Banco. Se a parcela atrasar, terá mora e juros de atraso, negativação nos órgãos protetores do crédito ou mesmo execução judicial acionando garantias e avalistas, o que pode deixar a situação ainda mais difícil. Por isso, é importante seguir os próximos passos e construir uma solução melhor. Também deve ser feito o orçamento pessoal, qual o valor necessário para a subsistência da família. O diagnóstico demonstra o valor total do endividamento, o valor das despesas mensais e o que é necessário para pagar as parcelas das dívidas;
  2. Diminua sua dívida: Verifique se há algum patrimônio que possa ser vendido, para quitar as dívidas e reduzir o comprometimento mensal. Algumas pessoas têm dificuldade de se desfazer de bens, carro, imóveis, obras de arte, objetos colecionáveis, ou outros bens. Se a renda não existe, ou não é suficiente, é uma alternativa viável, pois o deixará em condições de retomar o crescimento com menos preocupações. Por exemplo, um carro de R$ 30.000 pode ser vendido e utilizado para abater as parcelas a vencer, o que dará um fôlego para reorganizar as finanças. O que fazer sem carro? É cada vez mais comum ver pessoas, mesmo com boas condições financeiras, substituir o carro por outros meios de transporte, utilizar aplicativos de transporte e carona e com isso fazer uma boa economia. O carro do exemplo teria em torno de R$ 5.000/ano em despesas de IPVA, Seguro, combustível, estacionamento, etc. Além disso, teria outros R$ 3.000/ano de desvalorização, isto sem falar do custo de oportunidade, reduzindo os custos de juros dos empréstimos. Da mesma forma, outros bens podem ser utilizados para abater dívidas e ainda reduzir o custo de manutenção. Ao resolver se desfazer de algum bem, escolha aquele que mais onera o seu orçamento.
  3. Gere renda para resolver o passado e construir o presente e o futuro: A experiência empresarial e de gestão obtida neste negócio e durante a vida profissional lhe permite buscar novas oportunidades. Um negócio que não deu certo pode ser visto como um curso que você pagou, mais caro do que gostaria, de como fazer melhor e com mais resultados. Busque formas de gerar renda, monte um novo negócio, busque parceiros confiáveis, ou, se preferir, procure um emprego. Você também pode procurar algo que traga receitas adicionais, como dar aulas, preparar cursos digitais, transformar algum hobby em renda.
  4. Revise o orçamento familiar: é hora de apertar os cintos, focar no que é essencial e comprometer o menor valor mensal possível. Revise assinaturas de TV, planos de telefonia, aluguel, manutenção, empregada, etc. Não necessariamente excluir, mas analisar o que pode ser reduzido. Nem tudo o que é bom é caro. Nem toda a diversão é paga. Aproveite este momento para redescobrir passeios em parques, momentos em família, diversões que podem agregar em qualidade de vida sem ferir o bolso.
  5. Renegocie: buscar uma solução antes de vencer permite que você mantenha o crédito. Hoje, as instituições financeiras possuem uma base de consulta, o SCORE, que utiliza dados de diversos locais, instituições financeiras, lojas de departamentos, fornecedores de serviços. Quanto pior o score, maior a dificuldade de obter crédito ou mais caro ele fica, pois demonstra uma tendência de inadimplência. A renegociação demonstra boa vontade e disposição de resolver a questão, o que é muito bem visto pelo mercado. Negocie uma parcela que possa cumprir, peça um período de carência para que você consiga se organizar.
  6. Busque parcerias inteligentes, como equipamentos ou matéria prima em permuta, foque em ter alguns contratos mensais com empresas que cubram seus custos fixos. É hora de buscar alternativas e expandir as possibilidades, a pensar além do óbvio. Quem da sua rede de contatos precisa do que você sabe fazer? Quem pode ser útil para você retomar seus negócios? Como você pode utilizar seus relacionamentos para gerar negócios? Utilize seu networking, estudando cada possibilidade.

Aplique-se em gerar renda, cuide de seu orçamento, e, ao organizar-se, separe uma parte para investir rotineiramente. Cada situação é um aprendizado. Recomece, tenha determinação, execute e seja feliz com suas escolhas e evoluções!

Eliane Jaqueline Debesaitis Metzner é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

Este artigo foi publicado originalmente na Época Negócios. As respostas refletem as opiniões do autor, e não da Época Negócios ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 10 de outubro de 2017

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