Seu Planejamento Financeiro

Se eu perder o emprego, o que devo cortar? Como proceder?

Janser Rojo, CFP®, responde:

Infelizmente, pelo cenário de crise no Brasil, o número de desempregados tem atingido níveis alarmantes e, com isso, mais e mais famílias se deparam com o desafio de ter que equilibrar as finanças com menos fontes de renda.

Estar preparado para essa possibilidade, já que é um risco conhecido pelos assalariados, é a melhor forma de reduzir o impacto caso a perda do emprego venha efetivamente a acontecer. Uma recomendação primordial na prática do Planejamento Financeiro é garantir a famosa “Reserva de Emergência”, que seria um montante investido com alta liquidez (ex: poupança) suficiente para manter o padrão da família até uma recolocação.

Falando assim parece simples, mas existem 3 variáveis para essa estratégia dar certo que precisamos olhar em detalhes:

1) Tempo para recolocação

Esse tempo pode variar de atividade para atividade. Existem profissões com mais oferta do que outras e isso impacta diretamente no tempo para recolocação. Se houver a confiança de que uma recolocação seria fácil, talvez uma reserva de emergência de 3 meses poderia ser suficiente. Se a profissão é muito específica, talvez seria necessária uma reserva de 9 a 12 meses. Um cenário de crise, como este que vivemos, também pode aumentar esse tempo. Em média, os Planejadores Financeiros falam em ter uma reserva para 6 meses, porém com uma análise mais acurada, este número pode variar para trazer mais eficiência ao Planejamento.

2) Padrão da família

É fácil falar em padrão de vida, mas é difícil encontrar famílias que saibam de forma detalhada qual é o custo para manter este padrão. Este número é essencial para o cálculo da Reserva de Emergência. Além disso, mesmo dentro de um padrão, há margem para cortes de orçamento sem afetar tanto a qualidade de vida. Para aqueles que perdem o emprego sem uma reserva adequada, essa é a principal tarefa!

Existem várias formas de definir as prioridades. Ao longo da minha carreira como Planejador Financeiro Pessoal, descobri uma fórmula que se mostrou bastante eficiente e que ensino a seguir, porém de nada adianta tentar definir prioridades sem um bom controle de orçamento. O primeiro passo é manter um controle detalhado de todas as despesas! Em seguida, para cada despesa, classifique-a da seguinte forma:

a) BÁSICA: são as despesas primordiais para sobrevivência e segurança. Aqui entram os custos de, por exemplo: supermercado, luz, água, aluguel, condomínio… São as despesas que, invariavelmente, vão aparecer nos gastos do mês de qualquer forma. É possível sim diminuir no supermercado ou cortar o aluguel, porém isso resultaria em uma direta diminuição no padrão de vida, que é o último recurso que gostaríamos de usar.

b) CONFORTO: são as despesas que possuem alternativas mais baratas, porém escolhemos fazê-las com o objetivo de ter mais conforto. Alguns exemplos aqui são: TV a cabo (ao invés de somente TV aberta), carro (ao invés de utilizar transporte público), empregada/faxineira (ao invés de realizar as próprias tarefas domésticas). Cortar ou diminuir estas despesas não refletem em uma queda direta no padrão de vida, mas trazem um desconforto imediato.

c) LUXO: são as despesas que fazemos por escolha de forma pontual para trazer uma satisfação imediata. Exemplos de despesas desse tipo: viagens, jantar fora, doações, presentes, compras pessoais, lazer em geral. Diminuir ou cortar estes custos não trazem um desconforto imediato e podem ser facilmente suportados por um período (especialmente em casos extremos, como enquanto durar o desemprego).

Vale mencionar que estas classificações dependem de pessoa para pessoa. Gastos com “Academia” por exemplo, para alguns pode ser LUXO e para outros CONFORTO. O importante é perceber que isso traz uma clara ordem de prioridade para o corte de gastos, iniciando pelo que é LUXO, depois CONFORTO e somente por último os itens BÁSICOS.

3) TOTAL DE RESERVA

Agora sim conseguimos saber qual será o total da reserva necessária para segurar a família em caso de desemprego.

No caso da família que está formando a Reserva de Emergência, a tarefa é somar as despesas classificadas como BÁSICAS + CONFORTO (de forma a prevenir inclusive o desconforto) e multiplicar pelo TEMPO PARA RECOLOCAÇÃO.  Esse será o TOTAL DE RESERVA necessário.

Nas famílias que já sofrem com o desemprego, o caminho é o contrário: já se sabe quanto é o TOTAL DE RESERVA (se é que existe alguma reserva, podendo ser somente o valor recebido na rescisão). A tarefa é fazer este TOTAL DE RESERVA durar pelo menos o TEMPO PARA RECOLOCAÇÃO. Dividindo um pelo outro, achamos o valor mensal disponível para as despesas e então comparamos este valor com o total de despesas BÁSICAS. Se o valor for maior, ótimo! Será possível manter o padrão da família se a recolocação acontecer no tempo esperado. Se o valor não for possível nem para manter as despesas BÁSICAS, será necessário reduzir o padrão da família ou então recorrer às dívidas, o que é bastante arriscado já que não se sabe ao certo quando acontecerá a recolocação. O aconselhável, nestes casos extremos, é reduzir o padrão provisoriamente até que a renda retorne ao padrão anterior.

Lidar com uma situação de desemprego é extremamente desgastante e impactante para a família, por isso deve ser encarada em conjunto, ganhando consciência da importância de um bom controle do orçamento doméstico. Prevenir-se é o melhor remédio, mas para quem acabou entrando nas estatísticas sem a reserva adequada, disciplina e organização serão fundamentais para reduzir o stress financeiro.

Como diria o velho ditado: “não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe”. Assim que conseguir dar a volta por cima, coloque a formação da sua Reserva de Emergência como primeira prioridade.

Janser Pinheiro Rojo é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Associação Brasileira de Profissionais Financeiros – Planejar. Email: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 11 de julho de 2017.

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