Como avaliar risco cambial ao investir no exterior?
Bruno Witt, CFP®, responde:
Seja para ter acesso a mercados mais diversos e estáveis, seja como uma forma de proteção patrimonial, os investimentos offshore têm ganhado mais espaço no planejamento financeiro dos brasileiros. Segundo dados do Banco Central, os investimentos de brasileiros no mercado financeiro global atingiram, em 2023, US$ 45,18 bilhões, valor 12,5% superior em relação a 2022.
Investimentos “offshore” são aqueles que envolvem ativos e títulos de empresas e governos estrangeiros. Esse tipo de aplicação tem como vantagem a simplificação tributária, maiores retornos financeiros e o acesso a mercados mais diversificados.
Há várias ferramentas para se ter acesso ao mercado offshore. Elas vão desde estratégias mais simples, como utilizar corretoras estrangeiras para investimentos diretos, até as mais complexas, como a criação de uma “Trust” em outros países para administrar operações financeiras e os ativos dos usuários. Contudo, os investimentos no exterior apresentam desvantagens que precisam ser consideradas no planejamento. Eles são mais expostos a riscos macroeconômicos diversos, como crises financeiras, recessões, mudanças nas taxas de juros e de inflação em várias partes do mundo e, principalmente, ao risco cambial.
O risco de taxa de câmbio decorre da probabilidade de perdas financeiras devido a alterações no câmbio, tanto na taxa local quanto na taxa internacional. Essas moedas podem desvalorizar ou valorizar uma em relação à outra. Assim, ao se investir no exterior, existe a possibilidade de perdas imprevisíveis como resultado dessa oscilação.
A avaliação de riscos deve começar com uma análise do cenário macroeconômico, tanto do país de origem como daqueles onde se quer investir, avaliando-se principalmente como é feita a sua política comercial. Economias que buscam exportar a maior parte da sua produção tendem a ter a sua moeda mais desvalorizada, enquanto países com maior dependência de importação costumam valorizar as suas moedas.
Também deve ser levado em consideração como o portfólio estará exposto ao risco. Ao se investir diretamente em títulos ou empresas estrangeiras, o lucro vai ser expresso naquela moeda, e o risco cambial é evidente. Nesse cenário, é preciso analisar o quanto os resultados desses investimentos são afetados por flutuações no cambial. Agora, ao se investir em fundos globais e em estratégias mais complexas, o risco cambial dos ativos é calculado e manejado pelos próprios gestores, tendo como referência a moeda principal do fundo.
Assim, o investidor que está buscando mercados externos deve ter em mente que a diversificação é a melhor ferramenta para mitigar o impacto que as flutuações no câmbio têm na sua carteira. Quando se reduz a concentração em ativos, setores e moedas, o risco também é suavizado, de maneira que se pode aproveitar melhor as oportunidades que os mercados externos oferecem. Além disso, a estratégia de diversificação pode ser combinada com instrumentos financeiros que são usados como proteção, a exemplo de contratos de derivativos vinculados à variação cambial.
Dessa forma, fica claro que a avaliação de risco cambial é essencial em estratégias de investimentos offshore, pois a flutuação das moedas impacta diretamente o retorno. O planejamento financeiro com foco no gerenciamento de risco é essencial para que o investidor proteja seu patrimônio e maximize os seus retornos.
Bruno Witt é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]
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