época negocios - texto

Como equilibrar o planejamento financeiro para o futuro sem esquecer do agora?

Roberto Cazzetta, CFP®, responde:

Essa é uma excelente e desafiadora questão que traz boas reflexões, inclusive filosóficas. O ser humano é a única espécie capaz de projetar o futuro, e não apenas reagir às circunstâncias presentes, e foi essa capacidade que permitiu à humanidade crescer e prosperar aqui na Terra. Além disso, foi desenvolvida a capacidade única de pensar no passado e usar experiências para tomar decisões no presente.

Aparentemente, o ser humano conseguiu harmonizar bem essa característica única de projeção mental com as vivências do cotidiano. Afinal, se os antecessores não tivessem obtido êxito em executar seus planos futuros, muitas tecnologias e estruturas não teriam sido criadas e poderíamos estar estagnados em termos de crescimento econômico e populacional. Porém, sabe-se também que o cérebro gasta muita energia para adiar uma gratificação em troca de algo no futuro, como por exemplo o ato de poupar e investir ao invés de gastar.

Planejar o longo prazo exige um processo de racionalização, que é obtido através do conhecimento e análise do contexto. É preciso ter um objetivo e uma justificativa plausível. Avaliando, por exemplo, a questão da previdência pública e a demografia, uma análise básica conclui que a previdência social não tem a mínima sustentabilidade no longo prazo. Logo, as pessoas que não se planejarem para o momento em que não quiserem (ou não puderem) mais trabalhar, vão enfrentar dificuldades financeiras. Essa racionalização permite ao cérebro projetar o cenário de pobreza, de dificuldade, de privações, e isso é capaz de registrar memórias que trazem dor e sofrimento e, para evitar isso, passa-se a agir no presente para evitar essas sensações, fazendo um plano de previdência privada, por exemplo.

Por outro lado, é preciso abrir mão de usufruir do presente e lidar com a incerteza de talvez nem alcançar a idade planejada de aposentadoria, ou talvez a aposentadoria nem seja necessária… De uma forma ou de outra, é necessário desistir de algo, e essas são decisões complexas e dolorosas para o ser humano. Nesse ponto, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal são processos importantes. Conhecer as crenças sobre dinheiro, descobrir valores, ressignificar interpretações, aprofundar questões espirituais e pensamentos, enfim, é um processo que ajuda a clarificar do que é possível abrir mão e o que deve ser foco. Não há certo e errado, mas sim o consciente e o inconsciente. Quanto mais for possível viver as escolhas no modo consciente, mais claro fica qual o equilíbrio que funciona, de acordo com a personalidade e contexto socioeconômico de cada um.

Para ajudar no processo de racionalização das decisões financeiras, é interessante consultar um profissional especializado: o planejador financeiro. Dê preferência aos profissionais devidamente certificados CFP®, pois eles comprovaram conhecimento técnico e prático para exercer essa atividade e, inclusive, são orientados a trabalhar em equipe com outros profissionais, como contadores, advogados e, por que não, psicólogos e profissionais da área espiritual que podem ajudar nesse processo de encontrar o nosso equilíbrio para a prosperidade integral.

Roberto Cazzetta é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no jornal Época Negócios em 30 de janeiro de 2024

0