Eu educo, tu aprendes, nós prosperamos
Entrevistados: Marcos Figueiredo, co-fundador do aplicativo Blu do banco BS2 e Christianne Bariquelli, superintendente de Educação da B3.
Empresas do setor financeiro incorporam entre as prioridades no negócio a educação financeira para a formação de clientes conscientes e de longevidade na relação de consumo
A velha máxima da venda acima de tudo se mostra mais superada a cada dia no Brasil e no mundo, principalmente no segmento financeiro. Empresas, profissionais autônomos e até o governo entendem a importância da educação e do conhecimento das pessoas para um uso pleno e consciente de produtos e serviços. Tudo dentro do conceito inserido na sigla ESG que virou meta para muitas instituições: “E” de environmental, palavra em inglês que representa o cuidado com o meio ambiente; “S” de social, que significa a preocupação como coletivo e “G”, de governance, que significa ética, transparência e honestidade nos negócios.
Embora muitos avanços já tenham sido conquistados, os educadores admitem que ainda há um caminho longo a ser percorrido num país de dimensões continentais e com tantas diferenças.
“O Brasil é assustador com uma combinação de pessoas de baixa renda com hábitos de consumo exagerados”, afirma Marcos Figueiredo, co-fundador do aplicativo Blu do banco BS2. O app foi criado para a educação financeira de adolescentes com a supervisão dos pais e superou os 50 mil inscritos. Figueiredo já havia passado por outras instituições financeiras, sempre preocupado com o baixo nível de conhecimento financeiro das pessoas, até conseguir associar trabalho à educação. Outra profissional dedicada a esta missão é Christianne Bariquelli, superintendente de Educação da B3. Ela e sua equipe desenvolveram um hub, ou seja, uma página na internet com a função de escola virtual e gratuita para ajudar as pessoas a investirem de maneira mais responsável e eficiente. Já são 133 mil cadastros e 800 mil acessos a conteúdos de diferentes autores selecionados pelo time de educação da bolsa. Christianne tem anos de dedicação à educação financeira e acompanha todo o processo de disseminação de conhecimento no país. “A gente avançou e hoje a educação financeira é um eixo na base nacional curricular do MEC (Ministério da Educação) e isso foi resultado de todo o trabalho que as instituições fizeram lá atrás”, lembra.
“O CFP® tem um papel muito importante junto ao investidor na hora de esclarecer, educar e dar segurança na tomada de decisão em relação ao dinheiro”
Num país de tantas diferenças como o Brasil, os profissionais de educação financeira são colocados à prova em relação ao histórico de vida das pessoas. Há uma faixa etária da população que viveu os tempos de hiperinflação no país entre os anos 1980 e 1990 e conhece bem o conceito de desvalorização monetária e, por isso, foi impelido a gastar mais do que poupar. Outra parcela mais jovem dos brasileiros que cresceu com os índices inflacionários mais controlados desconhece esta dinâmica, mas vem acompanhando, nos últimos meses, o que a alta constante dos preços representa ao orçamento pessoal e familiar. O Brasil é o país mais hostil financeiramente com a maior taxa de juros e o menor nível de educação, numa combinação perfeita para dar tudo errado”, pondera Figueiredo.
Num ano de turbulência econômica pelo agravamento da pandemia de Covid-19 no país, juros básicos sendo elevados pelo Banco Central e câmbio sujeito a solavancos constantes, além da educação financeira, o suporte de profissionais capacitados e certificados é fundamental. O volume de informação disponível sobre como lidar com o dinheiro é muito grande, bastante acessível e, algumas vezes, perigoso.
“O investidor pessoa física e o futuro investidor sempre precisa de informação e a gente tem buscado catalisar estes assuntos de educação financeira e estimular o investidor a entender e estudar sobre as suas decisões financeiras”, afirma Christianne que tem parte do seu time na B3 formada por profissionais com certificação CFP®. “É uma fonte confiável, um profissional bem preparado que foi certificado e estudou para isso. O CFP® tem um papel muito importante junto ao investidor na hora de esclarecer, educar e dar segurança na tomada de decisão em relação ao dinheiro”, explica.
“Planejador financeiro, para mim, tem exatamente o papel de um médico”
“Eu vejo muito o mercado de saúde como um mercado de finanças. Ninguém deve ir à farmácia e se automedicar. Todo mundo deveria passar no médico e perguntar qual é o medicamento mais adequado para aquela situação. Planejador financeiro, para mim, tem exatamente o papel de um médico”, exemplifica Figueiredo.
E o caminho defendido tanto por Christianne Bariquelli, quanto por Marcos Figueiredo para reduzir distâncias, criar empatia e proporcionar uma comunicação eficiente para educar financeiramente as pessoas é o mesmo: engajamento. Cabe ao profissional conhecer o contexto de vida de cada pessoa e direcionar a metodologia para esta realidade. “Não adianta você trazer as pessoas para o seu mundo. Nós temos que entrar no mundo das pessoas e, em cada geração, existe um mundo diferente”, defende Figueiredo em total convergência de opinião com Christianne. “Os conhecimentos mudam porque eu estou falando com mulheres ou jovens? Não. Muda sim a perspectiva que eu estou trazendo para cada público, mudam os objetivos que cada um tem em relação ao dinheiro”, ela explica.