O que considerar diante do cenário político para investir?
“Sou estudante e gostaria de começar investindo R$ 500,00 por mês em títulos de renda fixa. Quais títulos você aconselharia, diante do estado político atual”?
Bruno Mori, CFP®, responde:
Olá caro leitor, é um prazer responder a sua pergunta. Avaliar o cenário político é sempre importante para a tomada de decisões de investimento. Os governos influenciam diretamente as taxas de juros, inflação e crédito de uma economia.
Os títulos de renda fixa são contratos pelos quais aquele que emite o título (tomador de empréstimo) concorda em pagar alguma remuneração ao detentor da dívida em data(s) futura(s). A consequência mais importante disso é que existe o risco de o emissor do título não pagar a dívida.
Existem basicamente dois tipos de emissores de títulos de dívida: públicos e privados. Os títulos de dívida de empresas privadas estão expostos a um risco de insolvência maior. Se a empresa emissora tiver problemas, poderá deixar de fazer os pagamentos de juros e do principal da dívida. É razoável pressupor que o governo federal seja mais capaz de pagar as suas dívidas; portanto, os títulos de dívida do tesouro nacional apresentam um risco mais baixo. O impacto do cenário político atual tem maior influência na remuneração dos títulos públicos e privados e está mais ligado a fatores como nível de taxas de juros e inflação.
Além de contar com menor risco de crédito, os títulos do tesouro são mais acessíveis que os títulos de empresas privadas. Isso porque (1) muitas vezes os emissores privados determinam valores mínimos relativamente altos para cada investimento e (2) porque os custos de transação (negociação, corretagem e taxas) são mais baixos para os títulos do tesouro que são negociados diretamente no site “Tesouro Direto”.
Para o valor mensal proposto é mais indicado acumular uma reserva inicial em títulos do tesouro para depois escolher outras opções eventualmente mais “sofisticadas”. Os bancos são grandes emissores de títulos de renda fixa, mas como foi mencionado, normalmente são exigidos valores mínimos relativamente altos para que a relação custo-benefício seja vantajosa.
Antes de tomar uma decisão de investimento é recomendável refletir sobre o objetivo e o prazo para utilização dos recursos. Vale a pena também avaliar a necessidade de utilização deste dinheiro a qualquer momento. Apesar dos títulos do tesouro serem resgatáveis antes do vencimento, é interessante aplicar os recursos em títulos que tenham prazo de vencimento próximo do seu objetivo de investimento. Exemplos: (1) comprar (ou trocar) um carro no ano de 2023; (2) fazer uma viagem em 2024; (3) comprar uma casa em 2027; (4) acumular a maior quantidade de recursos até 2020.
Sobre os juros, o COPOM sinalizou ao mercado que deve parar de reduzir a taxa SELIC (hoje em 7,50% ao ano) em breve. A maior parte do mercado acredita num corte de 0,50% da taxa de juros na reunião de dezembro deste ano e que os juros devam ficar próximos de 7,00% ao ano ao longo de 2018. A partir daí é bastante difícil prever, principalmente por causa da provável troca de governo e respectiva equipe econômica em 2019.
As LTNs (títulos com juros pré-fixados) com vencimento em 2020 estão sendo negociados com rentabilidade aproximada de 8,40% ao ano. Ao comprar este título, a rentabilidade acumulada até o vencimento é fixada em 8,40% ao ano – independente do comportamento da taxa básica de juros durante o período. No vencimento, esta taxa pode ser considerada “alta” se os juros estiverem mais baixos, ou “baixa” se os juros estiverem mais altos do que isso. Não dá para ter certeza, mas ao comprar este título você está garantindo uma rentabilidade pré-determinada.
Uma nova equipe econômica a partir de 2019 pode ser mais ou menos tolerante à taxa de inflação e, deste ponto de vista os títulos indexados aos índices de preço são adequados para o longo prazo. A remuneração do “Tesouro IPCA” é a soma de um percentual fixo mais a variação deste índice de preços. É uma boa opção para ficar protegido de uma alta de preços, não perder poder de compra e ainda remunerar o capital investido.
Considerando o longo prazo, outra boa opção são os títulos “Tesouro Selic”. Estes títulos têm rentabilidade diária vinculada à taxa SELIC (taxa básica de juros da nossa economia). Com os possíveis aumentos de juros futuros, estes títulos proporcionam um aumento de rendimento no mesmo sentido.
Outro aspecto importante a ser observado é a tributação. Os títulos de renda fixa são tributados à alíquota regressiva em função do tempo decorrido desde a sua compra até o seu vencimento (ou resgate/venda) conforme abaixo:
Até 180 dias | Até 360 dias | Até 720 dias | Acima de 720 dias |
Alíquota: 22,5% | Alíquota: 20,0% | Alíquota: 17,5% | Alíquota: 15,0% |
Antes de começar a investir, é prudente e saudável para a sua vida financeira buscar informações sobre o funcionamento de cada veículo de investimento. Caso você não se sinta suficientemente seguro para tomar decisões e fazer a gestão da sua carteira de títulos, busque ajuda profissional. Boa sorte!
Bruno Mori é planejador financeiro pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Email: [email protected]
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Texto publicado no site Época Negócios em 12 de dezembro de 2017