CFP Magazine

Um mundo de desafios e oportunidades

Com diferentes impactos pelo mundo, a pandemia de coronavírus apresenta ao planejador financeiro a necessidade da compreensão global da situação para a orientação de seu cliente com ou sem portfólio de investimentos internacionais

Seja do ponto de vista sanitário ou econômico, a crise causada pela pandemia do coronavírus apresenta uma heterogeneidade que é um desafio para o planejador financeiro. Os países apresentam diferentes estágios de evolução da pandemia, uns com maior controle, outros no pico das transmissões. As atividades produtivas e a situação do mercado de trabalho nas nações também não seguem um padrão. Neste cenário, o profissional é ainda mais exigido quanto ao domínio das informações e projeções nos lugares onde seus clientes atuam ou ainda podem ter negócios. Até mesmo as atividades globais, como o turismo, precisam ser analisadas sob o ponto de vista destas diferenças entre nações porque, segundo especialistas, voltarão dentro de uma reorganização completa.

Ulf Mannhardt, sócio-diretor da UMA Wealth, lembra que, até mesmo o global supply chain, está completamente afetado. Cada país está produzindo dentro de um ritmo individual. “Desta forma, alguns produtos conseguem ser fabricados e outros não, além dos agentes da economia começarem a pensar nos riscos de comprar insumos no exterior e não conseguirem finalizar a produção no Brasil”.

Como consequência, as economias voltam a pensar em produzir localmente e, de mesma forma, o raciocínio vale para os investimentos, em uma eventual necessidade de aumento de liquidez. “Se a situação brasileira ficar muito complicada, uma possibilidade é de que as pessoas vejam a necessidade de fazerem uma repatriação de parte de seu patrimônio aplicado no exterior”, explica Mannhardt. O contraponto é a superação deste medo com o auxílio do planejador financeiro. “As pessoas que têm patrimônio podem estruturá-lo e protegê-lo, internacionalizando e diversificando suas atividades para equilibrar os riscos. Nesse sentido, a função do planejador financeiro se ampliou muito”.

Ainda de acordo com Mannhardt, a tecnologia vai facilitar a comunicação e isto servirá de apoio para as pessoas saberem que todas as transações financeiras mundiais são registradas em bancos de dados. A transparência dos atuais sistemas de tecnologia e as imposições regulatórias fazem com que as movimentações financeiras possam ser observadas facilmente. “No momento em que as pessoas entenderem ser completamente transparentes na sua existência nesse planeta, ficará mais fácil ajustarem suas atividades dentro de seus objetivos financeiros”, acrescenta.

“As pessoas que têm patrimônio podem estruturá-lo e protegê-lo, internacionalizando e diversificando suas atividades para equilibrar os riscos”

O planejador financeiro precisa ter amabilidade*, segundo Mannhardt, para liderar o processo financeiro e os objetivos de vida do cliente. “Nesta crise, percebemos que a evolução da economia mundial está intimamente ligada ao bem-estar da humanidade”. Para lidar com as transformações, ele aconselha o profissional a, ao contrário das profissões exatas, acostumar-se com a filosofia de Sócrates do ‘Só sei que nada sei’ e, desta forma, evitar uma posição de superioridade ilusória. “Para isso, o planejador deve se conectar com outros profissionais especializados, assegurando que o seu cliente receba todos serviços necessários e os resultados planejados”, afirma.

Outro experiente planejador financeiro com base na Europa é Tobias Maag, sócio-gerente na InfOpinion Gmbh, sediada na Suiça.  Lá, ele vê os países retomando as atividades de forma gradual e organizada. “No entanto, normalidade mesmo, só voltaremos a ter quando tivermos a vacina para a doença. Com o colossal esforço mundial por uma solução para a COVID-19, acredito que o processo de aprovação de vacinas será agilizado”, pondera.

De acordo com Maag, o comportamento de consumo das pessoas mudou, bem como a necessidade de poupar e ter uma reserva de segurança aumentou. Há maior consciência sobre a redução do consumismo.
“Começamos a perceber que vivemos com excessos que podem ser cortados”. Esta é a base da educação financeira que, no Brasil, tem um longo caminho até a maturidade. “Já existe uma conscientização no país de que esta educação precisa ser incluída no currículo escolar. No entanto, o desafio é enorme, já que o nosso ensino básico é muito fraco”, afirma.

Além disso, a maioria das pessoas acha que educação financeira é apenas fazer investimento, segundo Maag. E, na verdade, ele defende que o investimento é apenas uma e a menor parte das finanças das pessoas. “O mais importante é fazer o planejamento financeiro, ou seja, ter o conhecimento básico e ir aprimorando até chegar na parte do investimento”.

Diante desta realidade, o futuro do planejador financeiro será promissor se o profissional oferecer uma proposta de atendimento extremamente personalizado, envolvendo as partes comportamental, de orientação e holística, colocando o cliente em primeiro lugar. “O planejador deve educar as pessoas para a independência e não priorizar os mecanismos de controle e condução”, explica Maag.

*Termo utilizado pelo colunista do Valor Econômico, Rafael Souto, e criado pelo consultor Bill Taylor, para descrever a ambição aliada à humildade, característica sugerida para um trabalho em colaboração entre o cliente.

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